18/07/2001 - 10:00
Todo mundo sabe que Federico Fellini era uma das mentes mais criativas do cinema. Mas a tese de que seus filmes traziam as pessoas milagrosamente de volta à vida é uma idéia maluca do cineasta inglês Peter Greenaway, autor de Oito mulheres e meia (8 1/2 women, Alemanha/Holanda/Inglaterra/ Luxemburgo, 1999), em cartaz em São Paulo. Foi assistindo ao cortejo de sedutoras mulheres de Oito e meio, de Fellini, que o personagem Philip Emmenthal (John Standing), um rico empresário suíço, superou a perda da mulher e a crise dos 50 ao criar um verdadeiro harém na sua mansão em Genebra. Precisou apenas de um empurrãozinho do lúbrico filho Storey (Matthew Delamere), um pervertido de plantão, que passa a ensinar ao pai novas receitas de prazer.
Para ocupar os quartos do belo palácio, pai e filho contratam oito mulheres de manias diversas, entre elas uma amazona, uma jovem que adora ficar grávida e três japonesas – a primeira viciada em máquinas de apostas, a segunda apaixonada por kabuki e a terceira aficionada por negócios. A meia mulher do título fica o tempo todo numa cadeira de rodas. Puro humor negro. Juntos, todos mergulham numa ciranda de sexo, interrompida apenas por rápidos – e verdadeiros – terremotos provocados por Storey. Entre uma transa e outra, pai e filho trocam diálogos irônicos, cheios de referências pictóricas e literárias, como discutir se as heroínas de Jane Austen eram ou não boas de cama. A fantasia e o requinte visual apenas lembram Fellini. Mas, ao contrário do erotismo dos filmes do italiano, Oito mulheres e meia é gélido. Destila aquele humor britânico que provoca apenas o riso do intelecto.