21/05/2008 - 10:00
Poucas coisas são tão difíceis na medicina quanto o correto diagnóstico da dor. Não há instrumento que meça sua intensidade e muitas vezes não há palavras para descrevêla. Sofre o paciente, incapaz de relatar com fidelidade o que está sentindo, e sofre o médico, impotente diante de algo que não consegue quantificar exatamente. Uma iniciativa pioneira na internet está ajudando a transpor essa dificuldade. Trata- se da Pain Exhibition, uma exposição online de pinturas e esculturas produzidas por portadores de dores crônicas. As peças revelam os sentimentos dos pacientes em relação à dor. Demonstram tristeza, falta de compreensão alheia e um extremo alívio quando o desespero acaba.
A exposição foi criada pelo americano Mark Collen, 47 anos. Ele é portador de dor crônica no nervo ciático e enfrentava o desafio de transmitir ao especialista o que sentia. “Recebi um tratamento ruim até que o médico viu o que eu pintava”, contou à ISTOÉ. “A arte transcende as palavras e é a melhor maneira de descrever a dor. O sofrimento não entendido não é cuidado adequadamente”, afirma.
O acervo possui 75 peças, enviadas por pacientes do mundo todo. Ele é dividido em categorias: retratos da dor, sofrimento, visualização do sofrimento, Deus e religião, isolamento, mistura de sentimentos, amor incondicional (traz obras que revelam como os bichos de estimação podem auxiliar), esperança e transformação. Uma das que chamam bastante atenção é a batizada de “Mas você parece tão normal!”. É dedicada a obras que exprimem a dificuldade de os portadores convencerem médicos, familiares e empregadores de que estão debilitados.
A exposição já foi acessada por interessados de 146 países. E seu impacto é tão forte que as peças estão sendo usadas por dezenas de instituições em programas de informação voltados para profissionais da saúde. Entre elas, a Cardiff University, do Reino Unido, Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, e Beth Israel Medical Center, de Nova York, nos EUA. No Brasil, grupos de tratamento especializados ainda não utilizam as obras, mas aos poucos começam a estimular os pacientes a praticar a pintura. Os responsáveis já entenderam que a arte pode se tornar um recurso valioso de tratamento. “Percebemos que a pintura, por exemplo, melhora a coordenação motora e a habilidade cognitiva”, justifica o neurocirurgião Evandro Cesar de Souza, do Centro de Dor do Hospital Edmundo Vasconcelos, de São Paulo. “Além disso, ajuda a externar o que está no plano inconsciente”, explica o médico. Os interessados em enviar obras para a Pain Exhibition devem acessar www.painexhibit.com.