10/06/2000 - 10:00
O Grupo Diário Popular, do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, não pode ser chamado de um império de comunicações. Mas a chance de se transformar em um não pode ser desconsiderada pela concorrência. A estratégia do grupo, que há alguns anos se desfez do jornal Diário do Povo em Campinas para fortalecer seu principal negócio, o jornal paulistano que dá nome ao conglomerado, é diversificar. Além do jornal Diário Popular, cuja tiragem anda pela casa dos 200 mil exemplares, são duas retransmissoras do SBT, uma em Campinas e outra na Baixada Santista, nove estações de rádio, uma revista semanal, a Já, e um parque gráfico. Juntas, todas as empresas devem faturar neste ano R$ 180 milhões, segundo estimativa do próprio grupo. O próximo passo na ampliação do leque de negócios já foi definido: será um portal na Internet, que terá como pontos fortes um jornal online especializado em economia e política e uma central virtual de negócios que pretende reunir empresários de pequeno e médio portes.
O PanoramaBrasil, como o portal foi batizado, deverá entrar no ar até o final deste mês e poderá ser acessado pelo endereço eletrônico www.panoramabrasil.com. “Nos próximos dois meses, vamos fazer uma campanha publicitária intensa, não só no Brasil, mas também em Nova York, Buenos Aires e Cidade do México”, diz o superintendente do Grupo Diário Popular, Nilo Opitz, responsável pelo novo empreendimento. O investimento total anunciado pelo grupo é de R$ 10 milhões, incluindo os gastos com a campanha no Exterior, que se explica pelo fato de o site ser trilíngue – as informações serão apresentadas em português, espanhol e inglês.
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O acesso ao conteúdo noticioso será gratuito. No comando da redação, está o experiente jornalista econômico Roberto Müller. “É um desafio, a essa altura da minha carreira, entrar numa nova mídia, praticamente desconhecida”, diz Müller. Ele mostra na tela do computador uma das vantagens da nova tecnologia. “O internauta vai poder editar seu próprio jornal, clicando nas áreas de seu interesse, e receberá apenas as notícias que ele quiser”, demonstra. Escolhido seu menu pessoal, o usuário passará a receber algumas vezes por dia e-mails com as notícias que lhe interessam. O forte do jornalismo do portal, explica Müller, será a segmentação, tanto para as informações econômicas como políticas. Vai incluir, por exemplo, os balanços de quatro mil empresas. E o acompanhamento diário das discussões que acontecem nas comissões do Congresso Nacional. “A segmentação e a orientação das informações serão a nossa prioridade”, diz o jornalista. Outra vantagem da nova mídia serão os jornais apresentados em vídeo pela Internet, usando recursos interativos.
Mas a principal fonte de receitas deverá vir mesmo da central virtual de negócios, o que os profissionais da área costumam chamar de segmento “business-to-business”. São aqueles negócios fechados entre empresas através da rede de computadores. É o caso do restaurante fast-food que passa a cotar e encomendar os pedidos de seus fornecedores pelo site. Os especialistas dizem que é a área com maior potencial de crescimento na Internet. No caso do PanoramaBrasil, o objetivo será cativar o proprietário de um pequeno negócio, o executivo de uma empresa média ou o microempresário. “Uma empresa como a Volkswagen possui sua rede particular para comprar de seus fornecedores, não precisa de ajuda. Mas os pequenos e médios empresários muitas vezes não têm tempo, condições ou simplesmente não sabem como fazer”, diz Opitz. O portal dará uma oportunidade para essas empresas garantirem seu espaço, entrando em um cadastro que poderá ser acessado pelos demais membros dessa comunidade virtual de negócios. Para entrar nessa área do portal, será preciso se cadastrar e, em alguns casos, o serviço será cobrado. As empresas poderão vender seus produtos por meio de leilões, poderão comprar pelo mesmo sistema ou simplesmente oferecer seus serviços, dando detalhes do seu ramo de negócios, dos itens que vende, preços, etc. No caso dos negócios fechados através do site, a remuneração do portal poderá vir também de comissões acertadas previamente com as partes envolvidas na transação.
A expectativa de Opitz é recuperar os R$ 10 milhões investidos em um prazo de um ano e meio. Mas a entrada de sócios estratégicos não é descartada, inclusive para agregar novos serviços. Alguns candidatos a sócio, diz Opitz, estão se antecipando. “Há mais de um mês estamos sendo assediados por dois bancos, interessados em comprar parte do negócio”, afirma ele. A intenção do grupo, ao menos por ora, é resistir ao assédio.