08/11/2006 - 10:00
O Brasil vivia na quarta-feira 1º o ápice da maior greve dos controladores de vôo em toda a história da Aeronáutica. Foi deflagrada um mês após a queda do avião da Gol no acidente que matou 154 pessoas. Também na história da Aeronáutica é sabido que um acidente dessas proporções nunca acontece por falha de uma única pessoa – geralmente sobra a culpa para o piloto. Assim, os controladores que, em seis dias, paralisaram oito dos principais aeroportos do País, fazem reivindicações às claras e plausíveis. Mas também podem estar, atrás desse cenário, sinalizando com uma greve em nome do corporativismo: nove deles foram chamados a depor na polícia e podem ser indiciados pelo acidente da Gol – ainda não depuseram porque apresentaram laudos psiquiátricos. Suas principais reivindicações são: maior salário (o inicial é de R$ 1,3 mil), redução da tensa jornada de trabalho (ultrapassa oito horas, os controladores de metrô trabalham em turnos de seis horas) e abertura de concurso para admissão de 64 operadores. Até aí tudo bem. Mas tudo mal se paralisações como essa, que põem em risco a vida das pessoas, esconderem o corporativismo.
O QUE MUDA |
Jeitinho brasileiro
PERFIL DO CONTROLADOR Há no Brasil 2.112 controladores de vôo militares e 571 civis. O salário inicial é de R$ 1,3 mil. Durante o pouso e a decolagem, cada controlador monitora até 6 aviões. Quando as aeronaves estão voando, um controlador é responsável por 14 delas, mas em horários de pico chega a monitorar 20. A jornada de trabalho é de 8 horas. |
Fala o diretor técnico do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Ernandes Pereira da Silva:
ISTOÉ – Como vai o controle no Brasil?
Silva – Toda a coordenação do espaço aéreo se
dá, há muito tempo, na base do jeitinho brasileiro.
ISTOÉ – Por quê?
Silva – Faltam estrutura, valorização do profissional e investimento. O sistema de controle de vôo deveria ser um Ministério do governo, como ocorre em muitos países.
FALA A AERONÁUTICA
"O acidente da Gol desfalcou em 20% a mão de obra
disponível no turno do dia, gerando grande sobrecarga
de trabalho aos controladores"
Para ISTOÉ, de um oficial da Aeronáutica que não quer
ser identificado, admitindo uma possível conexão entre
a greve e o acidente com o avião da Gol