Eram sabidos os contadores de história. Não é à toa que o sapo só vira príncipe com um beijo e a Bela Adormecida só volta à vida também com o prazeroso artifício. Parece que o contato amoroso dos lábios tem realmente um grande encantamento. Um poder ao qual os brasileiros se entregam com deleite ao se deixar pegar pela boca. É o que mostra pesquisa divulgada no 15º Congresso Mundial de Sexologia, realizado na semana passada em Paris, na França. Segundo o estudo, coordenado por Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, depois da penetração vaginal, o beijo é a prática sexual preferida dos brasileiros, citada por 88,4% dos homens e 81% das mulheres entrevistados. Depois dele, vem o sexo oral, apontado por 65,5% dos homens e 52,2% das mulheres. “Ao contrário do que se pensa e do que consta no imaginário popular, os homens valorizam mais o beijo do que as mulheres. Isso surpreende porque normalmente as mulheres são mais românticas do que seus parceiros”, diz a pesquisadora.

Em resumo, beijar é indispensável tanto para homens quanto para mulheres. Que o digam os adolescentes que, em suas próprias incursões, chegam até a estabelecer campeonatos de quem beija mais na balada. São os “catadores”. Hoje, catar vários parceiros numa única noite não compromete nem meninas nem meninos. Para o estudante Daniel Stipanchevic, 18 anos, é apenas uma forma a mais de sociabilização. “Às vezes, cada um está com uma turma de amigos. Rola o beijo e só. Não quer dizer que não gostamos da pessoa. Apenas estamos a fim só disso”, explica ele. Nos últimos quatro meses, Stipanchevic está “enrolado” com alguém muito especial e, por isso, diz, não tem variado muito. Mas explica que beijar cinco meninas uma em seguida da outra numa danceteria é muito normal.

O beijo acontece com naturalidade. Basta um olhar para o entendimento. “Há dois anos, uma menina disse que a amiga queria me beijar. Cheguei e já fui beijando, só depois perguntei o nome dela”, revela ele. Claro que esses meninos estão sob o efeito da turbulência hormonal típica da adolescência. De todo modo, não deixa de ser um belo treino para escolhas futuras como as apontadas no estudo apresentado em Paris, que ouviu 2.835 adultos (47% deles, mulheres).

A modelo Daniela Cicarelli, 22 anos, que participou de campanhas publicitárias da Pepsi e da pasta de dente Sorriso com invejados beijos, acredita que, se o primeiro encontro dos lábios for intenso, o relacionamento tem mais chance de dar certo. “Beijo é íntimo. Tanto que no filme Uma linda mulher Julia Roberts fazia de tudo, mas não beijava. É o primeiro contato e superimportante”, diz ela.

Ela não está sozinha. Para o médico homeopata ortomolecular Eduardo Lambert, autor de A terapia do beijo (Editora Pensamento), o beijo é uma amostra da paixão. A falta dele funcionaria como um alerta de que algo não vai bem na relação. O médico lembra ainda que dar boas bitocas não só é bom como faz bem à saúde. “A boca é uma área erógena primária, assim como os genitais e as mamas. O beijo ativa os centros de prazer no hipotálamo e aumenta a produção de beta-endorfinas, que são substâncias com poder analgésico 100 vezes maior que a morfina. Há o relaxamento muscular e a ativação do sistema vascular”, atesta o médico. Faz, portanto, bem ao coração. Ou seja, o beijo tem até prescrição médica. Pratique. Colaborou Celina Côrtes, de Paris