No meio de objetos caros de design, enfeites importados e badulaques divertidos, o artesanato simples surpreende as clientes sofisticadas. As peças dispostas com capricho nas prateleiras de lojas dos Jardins, área nobre de São Paulo, agradam a decoradores como o festejado João Armentano e a seus clientes famosos. É o chamado artesanato comunitário. A partir de técnicas antigas e populares como o amarradinho (restos de tecidos cortados do mesmo tamanho e amarrados num pano tipo saco de batata, mas com acabamento em tecido mais fino) ou o fuxico (pequenas flores de pano costuradas uma ao lado da outra) retalhos se transformam em mantas, tapetes ou almofadas nas mãos calejadas de mulheres de comunidades carentes. A mais conhecida é a Aldeia do Futuro, em Americanópolis, comandada pela artista plástica Dina Broide. Lá, 80 donas-de-casa entre 30 e 50 anos reaprendem o valor de seu trabalho. “Elas diziam que fuxico era coisa de avó”, conta Dina. “Só que achavam que era coisa de pobre. Hoje, a visão é outra.”

A Aldeia do Futuro foi uma das primeiras comunidades a investir nas mudanças. E tudo começou quando Dina, há dois anos, conseguiu dar à popular técnica uma nova embalagem. Tornou as peças mais fashion e conquistou o mercado classe A. Dessa forma, viraram moda as almofadas em forma de coração feita com amarradinho, bem como tapetes com o desenho da bandeira do Brasil e bolsinhas em fuxicos.

Entre os adeptos famosos dessas peças está Astrid Fontenelle, apresentadora da Rede Bandeirantes. Conhecida pelo seu gosto extravagante e supermoderno, ela adora suas almofadas “fofas”, feitas de retalhos: “Além de terem personalidade, a delicadeza com que são feitas me emociona. O artesanato deve ser valorizado e não considerado brega”, diz a apresentadora.

Essa é também a filosofia do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), de São Paulo, que criou o projeto Moda na Comunidade. Por meio dele, 27 coordenadoras de comunidades carentes, envolvidas em corte e costura, foram chamadas para um curso de atualização. Estudaram reciclagem, modelagem e criação. Se encantaram com a própria capacidade. E, de agora em diante, vão passar tudo o que aprenderam para as suas alunas em bairros distantes e cidades do interior paulista. Maria Albaniza Cravo, 51 anos, não esconde seu contentamento: “Jamais pensei que seria capaz de produzir coisas tão lindas”, diz. Maria costurou uma blusa em tecido florido e bordou aqui e ali algumas flores com miçangas e outras pedras. O trabalho dessas mulheres não fica nada a dever aos estilistas mais badalados. Pode apostar.