27/06/2001 - 10:00
Mal chegou o inverno e já começa, na quarta-feira 27, mais uma maratona de desfiles das coleções primavera-verão das principais grifes do País. Durante sete dias, 80 mil pessoas estarão abarrotando o prédio da Bienal no Parque do Ibirapuera, para assistir ao segundo São Paulo Fashion Week. A despeito dos que afirmavam que a febre em torno da moda brasileira era passageira, já está confirmada a presença dos principais compradores e jornalistas do mundo fashion no evento. A revista inglesa Vogue, o jornal Sunday Times, e o italiano Corriere della Sera são alguns dos mais de dez veículos internacionais que manterão os olhares atentos às tendências da moda brasileira para a próxima estação. Os produtos que os gringos vão levar do Brasil para os quatro cantos do planeta são movimento, liberdade de expressão e a leveza de roupas sensuais que reúnem elementos das culturas antigas à loucura dos anos 80.
A criatividade dos nossos estilistas e os avanços da indústria têxtil permitem decretar o fim das roupas duras, comportadas e desconfortáveis. Conforme adiantam Renato Kherlakian (Zoomp), Carlos Miele (M.Officer), Benny Rosset (Cia. Marítima) e Fause Haten, a ordem é estar ao mesmo tempo elegante e à vontade. Um raio X dessa tendência está no vestido preto em crepe georgette e jeans que a Zoomp mostrará nas passarelas. O primeiro tecido que compõe a peça é leve e solto. O segundo, misturado com fibras de lycra, marca a silhueta sem sufocar. “O efeito desbotado do jeans remete ainda à ousadia e irreverência dos anos 80”, explica Kherlakian.
Elasticidade – A associação da lycra ao jeans e a outros tecidos rígidos, não é exclusividade dos modelos da Zoomp. Carlos Miele, dono da M.Officer, foi o primeiro a usar o couro bovino com elasticidade. Nesta coleção, ele repete a dose e abusa ainda mais da mistura com as fibras, capaz de criar texturas semelhantes às da pele de avestruz. Nas passarelas de Miele, reinarão o vermelho, o laranja, o preto e branco e o azul. As referências ao candomblé e à cultura brasileira, presentes no último trabalho do estilista, também continuam. “Insisto nos orixás por serem a entidade mais forte do mundo. E na nossa cultura, pela força que ela tem”, diz.
Se algumas coleções reforçam o elo com o Brasil, outras fazem o oposto. A Cia. Marítima apostou na cultura apache americana como tema desta coleção. Em metal esmaltado, couro ou silk, índios e cavalos estampam os mais de 90 modelos da grife. Com laterais finas tipo tanga ou largas como sunga, as calcinhas permanecem retas e baixas. Benny Rosset, estilista da marca, sugere como acessório chapéus em palha Panamá, assumidamente countries.
Para os homens, o estilista Fause Haten também apresentará uma coleção leve e despojada. Paletós bem acinturados com diferentes lapelas e, muita vezes, forros coloridos para quebrar a seriedade marcam o trabalho de Haten nesta edição do São Paulo Fashion Week. “Chega daqueles ternos enormes e duros que, além de sérios demais, deixam os homens sem movimento”, diz. A fonte de inspiração para sua coleção, entretanto, ele recusa revelar para não estragar o mistério. É por causa dessa e de outras surpresas que o maior evento de moda da América Latina virou também um festival de cotoveladas. Ninguém quer ficar de fora.
Estreantes |
No último São Paulo Fashion Week, Carlota Joaquina, Ronaldo Fraga e Trosman-Churba entraram no cerco fechado das grifes que fazem parte do calendário oficial da moda. Na edição do evento que começa esta semana, há outros três estreantes: as marcas Cavalera, André Lima e Mário Queiroz. Respeitados no cenário fashion, os novos participantes migraram da Semana de Moda/Casa de Criadores, evento bianual que, apesar de menor, também reúne talentosos estilistas. A marca Cavalera é do baterista do Sepultura, Igor Cavalera. As roupas, desenhadas pela estilista Thaís Losso, trazem sempre uma espécie de glamour pesado, como o que marca a própria banda de rock. Nessa coleção, além das camisetonas estampadas, haverá muito jeans e tops justos. “Não podemos mudar de linha só porque estamos no SP Fashion”,pondera Thaís. “Continuaremos fazendo roupa-de-rua, só que com maiores variedades e qualidades de tecido”, completa a estilista. |