A primeira lembrança que a paulistana Erika Jereissati Zullo, 30 anos, guarda do elegante Shopping Iguatemi é a de uma divertida gincana. Aos sábados, o pai pedia a ela e ao irmão, um ano mais novo, que passeassem pelos corredores contando quantas sacolas de cada loja iam nas mãos de consumidores. Pela soma, teriam de dizer quais as que vendiam mais. O ano era 1979 e a família de Erika acabava de adquirir o conjunto de pontos comerciais construído 13 anos antes e que se tornaria um dos mais rentáveis da América Latina. Até hoje, quando faz a ronda, Erika se pega repetindo o velho hábito.

Quem vê aquela mulher de 1,80 m passar veloz, corpo inclinado para a frente, vestindo terninho e mocassim, pode confundi-la com uma cliente. Ninguém faz idéia de que, durante o caminhar apressado, ela vai maquinando idéias. Nas suas mãos está o jogo de xadrez que transformou o Iguatemi no 14º endereço comercial mais caro do mundo, segundo a consultoria Cushman & Wakefield. Responsável por organizar o conjunto diversificado de lojas e contatar novos investidores, ela já atraiu Emporio Armani, Louis Vuitton, MaxMara, Tiffany & Co., Bally, Ermenegildo Zegna e Kenzo. Até 2002, quer ter 20 grifes de alto luxo. “Já fechei com Salvatore Ferragamo, Todd’s, Gucci e Hermés”, conta.

Filha mais velha do empresário Carlos Jereissati, 59 anos, Erika administra o dia-a-dia dos shoppings da família há 12 anos. Além do Iguatemi e do Market Place, em São Paulo, há outros oito espalhados pelo interior do Estado, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Hoje, enquanto o pai se ocupa da administração da Telemar, e o irmão Carlos Jr., da superintendência do Grupo Jereissati, Erika usa o faro de amante da moda para multiplicar as vendas. Consumidora de grifes como Lita Mortari, Armani e Dolce & Gabanna, ela montou uma equipe de dez pessoas para detectar tendências. “Para saber o que vende, ela repara até no que as pessoas estão vestindo nas festas”, entrega o irmão, Carlos Jr.

Cerca de 80% das 380 lojas do shopping Iguatemi são de roupas, jóias e acessórios. Só de aluguel, cada uma desembolsa de R$ 10 mil a R$ 15 mil por metro quadrado ocupado. “Para abrir uma loja ali, um comerciante não gasta menos de R$ 2 milhões em luvas (licença de exploração do ponto)”, afirma o consultor de marcas José Roberto Martins. Para atrair novas grifes, Erika viaja à Europa e aos Estados Unidos com um portifólio do shopping embaixo do braço. Na estratégia de convencimento, vale fazer um tour com o investidor pela cidade. Ocasião perfeita para longas conversas. “Erika é do tipo de executiva que convence o investidor com números, dizendo: ‘Se você tiver lucro, eu também vou ganhar’”, afirma a comerciante Angelika Winkler, representante da grife italiana MaxMara no Brasil.

Ex-praticante de vôlei e tênis, Erika também é capaz de grandes voleios para atrair clientes. Ao saber que a Tyffany & Co. procurava um ponto para se instalar nos Jardins, foi até o dono e lhe ofereceu a fachada do shopping, uma área de 430 metros quadrados, com duas entradas e sistema de segurança especial. Na hora de gastar, entretanto, Erika afirma ser contida. Viaja a passeio uma vez por ano, quando a família se reúne para esquiar na Suíça, e não é dada a badalações.