08/11/2006 - 10:00
Que os brasileiros não se espantem se nos próximos meses o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotar uma criança. Certamente, muitos dirão que se trata de puro populismo. O que poucos sabem é que essa é uma antiga reivindicação de Marisa Letícia, e quando a primeira-dama reivindica o presidente costuma não tardar a atender. A disputa eleitoral esfriou um pouco o assunto, mas Lula assegurou à mulher que voltariam a discutir a possível adoção quando terminasse o segundo turno. Marisa Letícia é assim. Uma primeira-dama que trabalha em silêncio e que raramente deixa de ser ouvida pelo marido. Aos amigos mais íntimos, costuma dizer que suas funções são exatamente iguais às de inúmeras mulheres simples deste país. Seu papel principal consiste em ser o esteio emocional do presidente. Tem a missão de manter a família agregada, por piores que sejam as pressões externas. E isso não vem de hoje.
Casada há 32 anos com Lula, coube a Marisa tarefas nada fáceis nas últimas décadas. Suportou as greves lideradas pelo marido, manteve a casa em ordem quando o líder sindical foi parar na cadeia e ainda arregimentou passeatas. Dos tempos mais calmos, gosta de lembrar que bordou a primeira bandeira com a estrela petista quando o partido foi fundado. Com a chegada do marido ao poder muita coisa mudou. A discrição de Marisa não. Quando perguntada qual o seu papel no segundo governo de Lula, demonstra que o casal atua em perfeita harmonia: “Quero fazer mais e melhor pelo Brasil. Em especial, pela maioria mais pobre do nosso povo”, diz.
Como boa parte das mulheres, Marisa cultiva uma vaidade pessoal, mas, avessa às fofocas das colunas sociais, não gosta de ver suas questões pessoais divulgadas. Em sua bolsa, a primeira-dama sempre carrega batom vermelho, protetor solar e um impecável baralho para joguinhos com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a assessora Clara Ant, por exemplo. Sua estilista pessoal, Tata Nicoletti, segue sua preferência por roupas nas cores azul e verde piscina para realçar a cor dos olhos. Marisa fez três cirurgias plásticas na face e, com o marido, submeteu-se à dieta da proteína. Emagreceu quase dez quilos. Esse perfil mais sofisticado e pouco propagandeado não faz com que a primeira-dama renege a história da ex-operária de 56 anos. Marisa começou a trabalhar aos nove anos como babá e foi embaladora de bombons da fábrica Dulcora dos 13 aos 21 anos. Hoje, o expediente é num confortável gabinete no Planalto, a 30 passos da sala do marido. Sem cargo oficial, não se atreve a dar palpite nos rumos do governo. Mas em casa quem manda é ela.
Dona Marisa administra o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto como se fossem seu apartamento em São Bernardo do Campo. No Torto, as visitas tinham que passar dentro da sala para chegar ao local das reuniões. Ela mudou a rota e melhorou o status da churrasqueira. No jardim do Alvorada, cometeu um equívoco que custou caro a Lula: mandou fazer uma estrela gigante com flores vermelhas. O símbolo petista foi retirado debaixo de uma saraivada de críticas.
Nos últimos meses, porém, os ministros mais próximos do presidente compreenderam que o papel de dona Marisa é muito mais importante do que transparece à população. Afirmam que durante a crise do mensalão foi ela quem não permitiu que Lula se abatesse. O mesmo aconteceu quando denúncias foram feitas envolvendo o filho de Lula. “Marisa se comportou como uma loba protegendo sua ninhada”, disse um ministro. Agora, as preocupações de dona Marisa têm sido mais alegres. Está empenhada em preparar a festa da vitória.