27/06/2001 - 10:00
Com certo atraso, o Brasil começa a despertar para os riscos do amianto, fibra mineral utilizada na produção de três mil produtos: de telhas, tecidos e luvas a pastilhas de freio e caixas-d’água. Entraram em vigor este mês leis de banimento progressivo do material nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. O Rio Grande do Sul também já tem um projeto de lei aprovado que aguarda a sanção do governo. Mas falta estender o veto a todo o País. O lobby a favor da matéria-prima –proibida em 21 países da Comunidade Européia –, porém, ainda é grande. Ela é barata, resistente, isolante térmica, facilmente combinada ao cimento e não pega fogo. Mas mata. A inalação pode provocar a asbestose, endurecimento do tecido pulmonar, além de tumores de pulmão, pleura, laringe, colo, reto e estômago.
O operário carioca Júlio Alegrete manuseou lonas de fibra de amianto por mais de 15 anos. Em novembro de 2000, morreu de asbestose, aos 74 anos. Alegrete e outras quatro vítimas fatais do amianto estão na lista do Centro de Referência Nacional da Saúde do Trabalhador, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio. O centro tem ainda 20 casos diagnosticados de doentes de asbestose no Estado. Todos trabalharam na fábrica de tecidos e papelão Teadit, no bairro Colégio, na zona norte do Rio. Os ex-funcionários entraram com ações contra a empresa e em maio fundaram a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea). A vice-presidente, Ruth Maria do Nascimento, 43 anos, foi demitida em 1990 por queda de produção. “Saí com sintomas de asbestose. Sentia falta de ar e cansaço, mas achava que era alergia”, lembra Ruth, impossibilitada de voltar a trabalhar por causa da doença.
Atualmente, o Brasil produz 200 mil toneladas de amianto ao ano. Desse total, 90% vão para a produção do cimento amianto, 5% para autopeças, 3% para a indústria têxtil e 2% para a química. Toda a matéria-prima é extraída da mina Minaçu, em Goiás, a céu aberto. Embora a indústria esperneie, terá que substituir o amianto de seus produtos até 2005 no Rio e em São Paulo. Alternativas não faltam, como bagaço de cana, juta, sisal, bambu, derivados de polietileno e mica. Apesar de as maiores vítimas do amianto serem os operários que manuseiam a matéria-prima, os consumidores também estão vulneráveis. Os produtos à base de amianto sofrem desgaste com o tempo e podem liberar partículas do mineral. “Não há como se proteger desse risco. É mais fácil substituir os produtos. Eu comprei uma caixa-d’agua à base de fibra de vidro”, aconselha o deputado Roberto Gouveia (PT), autor da lei que proíbe o amianto em São Paulo.