Desde que o rock é rock é assim. Basta a fama bater à porta de um grupo novato para seus integrantes começarem a desfiar lamentações sobre a deliciosa vida de estrela invejada por qualquer mortal. Mal entronizado no circo pop, o quarteto escocês Travis, com três ótimos discos e cinco anos de estrada, já deu largada nas lamúrias habituais. Depois de vender cinco milhões do impecável The man who, lançado em 1999, o grupo liderado pelo vocalista e compositor Francis Healey, um dos melhores da nova safra britânica, resolveu intitular o recém-lançado trabalho de The invisible band (a banda invisível). Exibindo aquele visual largado de quem acabou de acordar, quer ser reconhecido pela qualidade das músicas, sem precisar apelar para a máquina publicitária que move milhões.

Quando se tem talento de sobra, como é o caso do Travis, bobagens deste tipo são logo esquecidas em proveito de belas canções. Mesmo que nas letras o grupo bata na mesma tecla, apelando para uma pureza de sentimentos às vezes constrangedora. É o que acontece, por exemplo, na balada folk Sing, carro-chefe do disco, que Healey, 27 anos, voz sublime, compôs para a namorada, Nora, pedindo no refrão para que ela “cante, cante, cante”. Atravessada por um solene banjo, a música cola no ouvido. Além dela, o disco traz mais 11 canções doces, puxadas para o formato acústico, algumas bem tristes, como Last train. Todas lembram o Radiohead de OK computer ou, indo mais longe, o melhor rock hippie dos anos 60, de gente como Crosby, Stills, Nash & Young. A esta altura, contudo, já se pode dizer que The invisible band é puro Travis. Queiram eles ou não.