27/06/2001 - 10:00
Como bom amante da música, especialmente a composta pelo austríaco Franz Schubert, o israelense Amós Oz – considerado o maior escritor em atividade no seu país – não se conforma em ser um compositor frustrado. Tanto que em O mesmo mar (Companhia das Letras, 326 págs., R$ 28) ele quis transpor para a literatura a forma do madrigal, composição poético-musical. O resultado é um romance polifônico, tecido em belíssima prosa poética, que acompanha o cotidiano de uns poucos personagens extraídos da realidade contemporânea de Israel. Cada um com direito ao seu solo, ou a vários, durante uma narrativa cativante desde as primeiras páginas e composta de capítulos curtos, às vezes tão curtos que mais parecem poemas.
Albert Danon, por exemplo, é um contador fiscal sexagenário que passa noite após noite em frente ao computador. Sua mulher Nádia morreu devorada por um câncer implacável. Mas está viva – e como – na memória de todos, especialmente na do filho Rico, que foi buscar consolo nas montanhas geladas do Tibet. Ele deixou para trás a namorada Dita, roteirista de cinema que se envolve com um produtor de filmes e com um especulador imobiliário, sem esquecer o próprio sogro. Existem, contudo, mais personagens periféricos. São as vozes em surdina deste belo canto coral, todos melancolicamente solitários. Cada um vivendo sua vida pequena, mergulhado no grande mar da existência. No vai-e-vem da narrativa fragmentada e circular, Amós Oz se afastou dos temas políticos pelos quais ficou conhecido. Preferiu orquestrar as impressões pessoais de suas cinco ou seis almas num romance cujo sinônimo é música.