Diga a verdade: quem não gosta de ver uma mulher sensacional, com cinturinha de pilão e seios balão, empunhando dois trabucos e enchendo de chumbo uns grandalhões esquisitos? Ou quebrando a cara de um inglês afetado? Tem gente que acha tal espetáculo lamentável. Estes devem evitar os cinemas no dia 6 de julho, quando estréia no Brasil o filme Lara Croft – Tomb Raider (Lara Croft – Tomb Raider, Estados Unidos, 2001). Hollywood, porém, sabe que a combinação gata/porrada é garantia de sucesso. A fórmula já foi mais do que testada. Afinal, a personagem central, Lara Croft, há seis anos vem chacoalhando seu par de pistolas semi-automáticas 9 mm, além do par de seios que só um computador degenerado poderia esculpir. Neste intervalo de tempo virou uma campeã de vendagem no ultracompetitivo mercado de jogos eletrônicos.

A mágica de transformar a beldade virtual numa figura de carne e osso contou com a visão explosiva do diretor Simon West, de Con air – a rota da fuga, cenários e gadgets que consumiram US$ 100 milhões e, principalmente, a substancial presença de Angelina Jolie, 26 anos. A atriz se transformou na sensação da temporada de verão nos Estados Unidos e, de quebra, revitalizou o filme de ação, fazendo com que Tomb raider faturasse US$ 48,2 milhões no primeiro fim de semana de exibição nos Estados Unidos. É a era da mulher ferrabrás. A Lara Croft de Angelina é um híbrido de Indiana Jones com James Bond e um sutiã wonderbra, aquele do enchimento. Quando seu criador Adrian Smith digitou os primeiros códigos binários que dariam contornos à maior beldade dos games, a intenção confessa era um tributo ao herói de Os caçadores da arca perdida. Só que Harrison Ford seria substituído por uma antropóloga inglesa milionária, com o físico de Miss Universo, cérebro de um cientista e impulsos homicidas.

Por ser uma criatura digital, Lara Croft não suava e, portanto, não precisava trocar o uniforme, reduzido apenas a uma camiseta verde, um shortinho cáqui e óculos escuros. O resultado desta mistura sedutora foi US$ 1 bilhão de vendas de jogos e outros produtos derivados. Para as telas maiores, o diretor Simon West melhorou o guarda-roupa da mocinha. Agora, ela enverga 19 trajes diferentes, ainda que a maioria seja negra. Afinal, como ensinou a estilista Coco Chanel, uma mulher deve sempre manter no armário pelo menos uma dúzia de pretinhos. West também deu novas qualidades à heroína. Injetou o DNA do agente 007 nas veias de sua criatura, incorporando à sua cintura uma miríade de brinquedos eletrônicos mortíferos.

endo Simon West o diretor, cada cena deve conter uma explosão. Seja ela a demolição de um templo milenar no Camboja ou um close dos lábios letais de Angelina. Os lábios, diga-se, ganham na comparação: eles enchem a tela. Estão para Jolie como os bíceps estavam para Schwarzenegger. Mas Angelina – poverina – ao contrário de Arnold, não usou dublê. Fez todas as cenas mais arriscadas pessoalmente, entre elas um bailado de bungee jump, um mergulho em cachoeira e até uma corrida de trenó movido a cachorro. Mas com a tarimba de quem já ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2000 pelo filme Garota, interrompida, Angelina só parece sofrer mesmo é com o roteiro, menor do que os shortinhos que enverga com tanta graça. Tudo gira em torno de um relógio antiquíssimo, herdado do pai pela heroína, capaz de prever o alinhamento dos planetas do sistema solar. Ele contém um artefato-chave para abrir dois cofres misteriosos, dentro dos quais se encontram as duas partes do “Triângulo da Luz”. Quem conseguir unir as duas frações do triângulo em determinada hora do enfileiramento planetário herdará os poderes de Deus. Mas Lara só deseja fazer o tempo regredir e ter seu falecido pai, Lord Croft (Jon Voigth, pai de Angelina), de volta. Como se vê, o espectador deve deixar um hemisfério do cérebro em casa e guardar o outro para a superdose de bom humor necessária para a diversão.

Os olhos, bem, estes devem ser reservados para os diversos talentos de Angelina. Ela começou sua carreira aos 17 anos, no filme Cyborg 2, de 1993. Numa entrevista a ISTOÉ, confessou que depois de ver seu trabalho na fita chorou durante uma semana e, imediatamente, se matriculou numa escola de interpretação. Só saiu de lá para dar performances que lhe valessem um Oscar. Mas os tempos mudaram. Hollywood descobriu que a melhor onda no momento é colocar as mulheres por cima. Os garotos estão loucos para ver uma pantera com 39 cm de busto mandando bala. Já as meninas, há muito tempo esperavam uma heroína que trocasse as lágrimas e o aspirador de pó por uma submetralhadora e cusparadas. Por isso, é bom se acostumar com Lara Croft. Ela chegou para ficar.