08/11/2006 - 10:00
Ao ligar para cumprimentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua vitória eleitoral, na terça-feira 31, o presidente americano, George W. Bush, voltou a demonstrar que as relações entre Estados Unidos e Brasil continuam muito boas, apesar de divergências dos dois países em questões comerciais. Um dia antes, a remoção do embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, suscitou rumores de que o governo Lula prepara uma guinada na política externa, privilegiando desta vez a relação com os EUA. Especulou-se que a remoção do embaixador teria sido um gesto de boa vontade com os americanos. Na verdade, a decisão foi um acerto de contas interno: Abdenur é tido como desafeto do chanceler Celso Amorim. Outros rumores eram de que Amorim seria mantido, mas que cairiam o secretário-geral, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, considerados os “ideológos” de um suposto antiamericanismo do Itamaraty. Porém, fontes diplomáticas consultadas por ISTOÉ consideram essa informação infundada e apostam na continuação da política externa, com pequenas nuances.
Existe a percepção de que, apesar das divergências, o governo americano respeita a orientação externa do Brasil, ao contrário do que ocorre com a Venezuela. “Os dois países discordam em muitos assuntos comerciais, mas os EUA consideram o Brasil um aliado em vários temas, tanto que os dois países estão colaborando no Haiti”, disse o brasilianista Peter Hakim, presidente da ONG Diálogo Interamericano. “Os EUA aprenderam a lidar com o Brasil e o Brasil aprendeu a lidar com um país que não está disposto a fazer concessões em termos de comércio”, completa ele. “A política externa tem dado bons resultados e o Brasil hoje exporta mais para os países em desenvolvimento do que para os desenvolvidos. Além disso, ganhou enorme projeção internacional como líder do G-20”, diz o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de Formação do império americano. Para ele, a idéia de que o Brasil vem perdendo sua influência regional para o venezuelano Hugo Chávez é uma abordagem que visa intrigar o Brasil contra a Venezuela. “O Mercosul saiu ainda mais fortalecido com a adesão da Venezuela e isso desagrada aos EUA e aos seus epígonos no Brasil”, diz Bandeira.
Mas em setores empresariais a abordagem do Itamaraty causa incômodo. “Tentar uma aproximação com os países em desenvolvimento e manter relações estreitas com os países desenvolvidos não são políticas externas excludentes”, diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. “Falta, no entanto, manter o mesmo ativismo comercial e diplomático com os EUA, a Europa e o Japão, que representam dois terços do comércio mundial”, pondera Fonseca. Para ele, desde que Lula assumiu, o Brasil vem perdendo participação no comércio com os EUA. Hoje, exportamos para lá US$ 21 bilhões. “Poderíamos estar exportando, sem dificuldade, US$ 30 bilhões ou US$ 40 bilhões. E é bom lembrar que para cada bilhão de dólar exportado são criados aqui 60 mil empregos”, completa.