ROBERTO CASTRO

AUTOCONFIANÇA Com números positivos, o presidente irritou aliados e disse que quer fazer o sucessor

Quando Chico Buarque começou a cantar no Centro de Convenções em Brasília, na terça-feira 15, o presidente Lula estava na terceira fila. Do seu lado esquerdo, a primeira-dama, Marisa Silva. À direita, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Fazia oito anos que Chico não se apresentava em Brasília. “Voltei a cantar/ Porque senti saudades/Do tempo em que andava pela cidade”, começou Chico, abrindo o espetáculo com a canção Voltei a cantar, de Lamartine Babo. Lula aplaudiu entusiasmado.Talvez também tenha saudades do tempo em que andava pelo País.

Na manhã seguinte, Lula estava diante de dezenas de jornalistas para conceder a segunda entrevista coletiva em quase cinco anos de governo. Entre a saraivada de perguntas, ele garantiu que não disputará um terceiro mandato, desautorizou qualquer aliado a seguir com essa idéia e disse que os presidentes, depois do poder, deveriam se recolher e se tornarem conselheiros, proferindo palestras. Sem modéstia, Lula enumerou dados positivos da economia. Expôs um quadro que combina inflação baixa, dívida externa controlada, real valorizado, dólar batendo recordes de desvalorização. “Já estou atingindo a minha perfeição”, exagerou, ao se comparar a um corredor de maratona próximo a cruzar a linha de chegada. “Se eu me meter a forçar um pouco o ritmo, posso ter uma distensão”, comentou. Forçar o ritmo, na sua avaliação, seria buscar interferir para que o Banco Central acelerasse a queda das taxas de juros.

Era mesmo um Lula diferente. Como ele mesmo disse recentemente: “As pessoas vão se tornando conservadores à medida que envelhecem.” O Lula das greves do ABC agora classifica paralisações no serviço público como “férias” – mesmo parados, os servidores recebem salários. A tirada provocou reações de seus aliados no sindicalismo, como o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique. “Foi uma frase bastante infeliz”, disse ele. Quando o assunto na coletiva foi sobre sua sucessão, Lula deu sinais de que o apoio a um nome do PT parece ser a última das suas opções. O nome de seu sucessor, disse Lula, pode sair do PMDB, tendo o governador Aécio Neves (hoje no PSDB) como candidato. Pode ser o deputado Ciro Gomes, do PSB. “Quem vai ser? Não sei. É tão cedo”, comentou. O que o presidente garante é que influirá na escolha do candidato governista em 2010. “Eu quero fazer o sucessor”, afirmou. Conseguirá? “Eu esqueci de perguntar ao papa”, brincou Lula.

NÃO às greves “Parar e receber os dias parados não é greve, são férias” Lula