23/05/2007 - 10:00
O RETORNO Colocado no ostracismo, ele agora não hesita em mostrar o rosto
Ele distribui autógrafos por onde passa, virou presença fácil em eventos – das comemorações de 1º de Maio a jogos de futebol, não deixa um convite passar em branco – e não teme mais ser reconhecido. Nem se esconde. O goiano Delúbio Soares, o homem do caixa, o rosto maior do mensalão, vive uma fase de pop star, numa reconstrução de imagem capaz de matar de inveja os melhores marqueteiros. Fato surpreendente para um homem que foi apontado como um dos chefes da quadrilha denunciada pelo procurador-geral da República. O que explica esse fenômeno? O professor de matemática Delúbio pode carregar todos os pecados do mundo, mas é ainda visto por muitos como um homem que não entregou ninguém e foi leal ao presidente Lula no momento mais grave da crise política. Isso lhe garante prestígio nas hostes petistas, respeito entre os empresários que fizeram doações "não declaradas" e inspira até um certo temor no Palácio do Planalto. Afinal, o extesoureiro é a memória viva do maior escândalo da história do partido do presidente.
Delúbio aposta que, em 2010, será um dos deputados mais votados em Goiás, seu Estado natal. Para atingir esse objetivo, ainda mantém um esquema político próprio. Em Goiás estão sob sua batuta órgãos como a superintendência dos Correios e a delegacia do Trabalho. Mas ele quer mais. Delúbio batalha para emplacar a companheira e exdeputada Neyde Aparecida no comando do FNDE, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, autarquia que só neste ano pretende gastar R$ 11,4 bilhões. Neyde é tão ligada a Delúbio que, durante a crise, ficou chamuscada ao mandar um motorista buscar com o amigo, em São Paulo, um pacote com US$ 200 mil.
Foi também em Goiás que Delúbio fez sua primeira aparição num evento empresarial de peso, ao participar da inauguração da fábrica de caminhões do grupo Caoa/Hyundai, em Anápolis. Lula estava lá. Mas pediu aos organizadores da festa que retirassem Delúbio do local. No entanto, o staff presidencial fez uma ressalva. O ex-tesoureiro não poderia ser "magoado" ou "melindrado" com a situação, num sinal de respeito. Delúbio ficou numa sala reservada, onde os principais políticos locais, como Íris Rezende e Maguito Vilela, fizeram fila para abraçá-lo. Alguns cobraram do extesoureiro que perdesse o pudor e falasse à imprensa. "Aprendi a respeitar o tempo", disse Delúbio. À noite, em clima de festa, Delúbio reuniu amigos petistas em sua casa em Goiânia.
NO MEIO DO POVO O ex-tesoureiro do PT no 1º de Maio da CUT
O que mais impressiona é a vida de celebridade que ele tem levado. Apareceu sorridente na festa do 1º de Maio da CUT. No aniversário de José Dirceu, só faltou dar autógrafos. No campeonato goiano de futebol, entrou em campo com a equipe do Itumbiara, cidade vizinha à sua. Cabelos agora compridos e bem tratados, aparelho nos dentes, barba aparada, sempre bem vestido, Delúbio mantém as relações estreitas de sempre com os estrelados do PT. Quem acompanha a rotina do prédio de classe média onde ele vive com a mulher, a também petista Mônica Valente, conta que são freqüentes as visitas de conhecidos petistas ao apartamento do ex-tesoureiro, entre eles Marta Suplicy e José Dirceu, além do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Delúbio não tem nada registrado em seu nome. Nem carro. O apartamento onde mora, no bairro paulistano da Consolação, está no nome da sogra, Diva Valente, e foi comprado em outubro de 2005, por R$ 190 mil.
Em Goiás, Delúbio tem feito seguidas reuniões com partidos nanicos. Como quer ser candidato a deputado federal e foi expulso do PT, ele articula uma aliança que lhe permita alcançar a vitória. Não faltam siglas interessadas em abrigá-lo. O presidente regional do PHS, Walter Souto, garante: "Se o Delúbio quiser, eu dou legenda, sim. Ele será um puxador de votos." O ex-tesoureiro do PT mantém excelente relação com o prefeito de Goiânia, Íris Rezende, a quem prometeu liberar verbas para a construção de casas populares. Seu irmão, Carlos Soares (PT), que investiu pesado na última eleição para eleger-se vereador, ficou como suplente e finalmente assumiu uma vaga, com Delúbio na posse. Pelas mãos do irmão famoso, Carlos é um dos homens de confiança do prefeito na Câmara.
Em jogo de futebol em Goiânia
Fora da política, nos tribunais a situação de Delúbio não é tão confortável. Além do inquérito do mensalão e do primeiro processo aberto no STF a partir do escândalo, Delúbio responde a outras ações na Justiça Federal de Brasília e na Justiça goiana. Uma delas por ter continuado a receber salário de professor mesmo sem aparecer na sala de aula. A sentença sai nos próximos dias. Ele, no entanto, está mais confiante. A investigação da PF sobre o caso Visanet apontou que o dinheiro é privado – isso eliminaria crimes como corrupção e tráfico de influência. No caso dos empréstimos dos bancos Rural e BMG ao PT, haveria erros processuais. E isso hoje dá a Delúbio quase a certeza de que ele não será preso. Principalmente se, além de pop star, conseguir se eleger deputado.