O piloto brasileiro Hélio Castro Neves ganhou quatro corridas em três anos de carreira na Cart, a categoria mais importante da Fórmula Indy. Comemorou todas do mesmo jeito, pendurado no alambrado dos autódromos. A marca registrada quase gerou multas de US$ 5 mil, pois os cartolas do automobilismo americano condenam a atitude. No domingo 27, esse paulista de 26 anos nascido em Ribeirão Preto venceu as mitológicas 500 Milhas de Indianápolis, a maior prova do automobilismo mundial, que não conta pontos para a Cart por fazer parte da liga rival, a IRL. Seu companheiro de equipe Penske, Gil de Ferran, campeão da temporada Cart no ano passado, chegou em segundo. Helinho, como é conhecido, subiu novamente na cerca de arame, e dessa vez foi acompanhado por técnicos e mecânicos da equipe. Mas não está nem um pouco incomodado com a possibilidade de ser punido – os organizadores da prova reservam ao vencedor o inacreditável prêmio de US$ 1.270.485. “Se a multa vier, acho que não vai haver problema para pagá-la”, brincou o piloto em entrevista a ISTOÉ.

Helinho foi o segundo brasileiro a vencer a prova histórica. Antes dele, Emerson Fittipaldi ganhou as corridas de 1989 e 1993. Ele suou para levar a bolada de dólares em 2001. Largou na 11ª posição e só chegou à ponta na 149ª volta, ao superar Gil de Ferran. Logo após a ultrapassagem, os dois pararam. “No boxe, disse ao meu pai: ‘O carro está equilibrado. Acho que vai dar e, aí, vou enlouquecer’”, lembra Helinho. Na saída dos boxes, Gil recuperou a liderança, mas perdeu a posição logo depois. “O Helinho fez uma corrida segura. O carro dele estava melhor no tráfego. Somos amigos. Não tenho o que reclamar da sua vitória”, disse Gil, que ganhou US$ 400 mil pela segunda colocação. Bruno Junqueira, Airton Daré e Felipe Giaffone, também brasileiros, chegaram em quinto, oitavo e décimo.

Uma vitória em Indianápolis transforma o piloto em celebridade nos Estados Unidos. A exemplo dos outros vencedores, Helinho teve a imagem de seu rosto talhada na histórica taça de prata de 1,52 metro e 41 quilos, feita há 65 anos e avaliada em US$ 1 milhão. Depois da corrida, foi apresentado à porto-riquenha Denise Quinones, Miss Universo 2001, ao bilionário Donald Trump, e entrevistado por várias estrelas da televisão americana, entre elas David Lettermann, uma espécie de Jô Soares da rede CBS. O imposto de renda americano fica com 40% do prêmio. Helinho, vice-líder da Cart, com 47 pontos, Gil, sexto colocado da competição, com 30, pretendem dividir uma parte do que sobrar com a equipe. Especula-se que essa parcela seja de 40%. “Mesmo assim, vou ficar com um filezão. Quero dar um apartamento em Miami para minha irmã e doar uma parte para brasileiros carentes.” E o resto? Helinho se despede com uma pergunta: “Você tem alguma idéia?” 

O dia em que Bernoldi viu
Coulthard pelo retrovisor

O paranaense Enrique Bernoldi tem apenas 22 anos e faz sua primeira temporada pela Fórmula 1. Mas seu desempenho dentro e fora das pistas começa a chamar atenção. Na semana anterior ao GP Brasil, causou polêmica ao afirmar que Rubens Barrichello, da Ferrari, “deveria falar menos e andar mais”. Domingo passado, em Mônaco, incomodou outra gigante da F-1, a McLaren, ao manter legalmente o escocês David Coulthard atrás de sua limitada Arrows por 35 voltas. Apesar do trabalho, Coulthard chegou em quinto e somou 40 pontos no campeonato. É a principal ameaça ao alemão Michael Schumacher, da Ferrari, vencedor da corrida em Mônaco e líder da temporada, com 52 pontos. A ousadia de Bernoldi impediu a recuperação de Coulthard, obrigado a largar em último lugar por causa de uma pane eletrônica. E revoltou Ron Dennis, o chefão da McLaren. “Se você não se comportar, posso acabar com sua carreira”, disse Dennis ao brasileiro. Nesta entrevista a ISTOÉ, Bernoldi, que chegou em nono e não marcou pontos, conta detalhes da ameaça.

ISTOÉ – O que aconteceu?
Enrique Bernoldi – Ron Dennis chegou com o Norbert Haug (diretor da Mercedes-Benz, que fornece motores para a McLaren) e me perguntou: “O que você acha que estava fazendo aqui?” Respondi: “A minha corrida.”

ISTOÉ – E ele?
Bernoldi – Disse: “Coulthard é vice-líder. Está correndo pelo campeonato.” Respondi: “Sou um piloto jovem, disputei uma posição sem irregularidades e estou correndo pela minha carreira.” Aí, ele me ameaçou. Disse: “Você sabe que temos condição de acabar com a sua carreira se você não se comportar?” Acrescentei: “Corrida não é ‘passe por favor’, e sim ‘passe se conseguir’.”

ISTOÉ – Você está com medo?
Bernoldi – Fiquei surpreso, mas depois tive apoio do dono da Arrows, Tom Walkinshaw, e retomei a tranquilidade. Nossos patrocinadores ficaram satisfeitos com a exposição na tevê. Ron Dennis tentou negar, mas me ameaçou sim.