06/06/2001 - 10:00
No início dos anos 90, Miguel Falabella ainda não tinha sua loirice esculpida por halteres, nem era uma figura com tamanha onipresença no show bussiness tupiniquim. Mas já despontava como um autor teatral de talento. A partilha – um de seus maiores sucessos nos palcos – foi escrita quando, durante a compra de um apartamento, ele foi surpreendido pela discussão de duas irmãs, herdeiras do imóvel. Ao fato real acrescentou a própria vivência familiar para criar uma história divertida, na qual quatro irmãs se engalfinham e passam a vida a limpo, depois de se reencontrarem para a venda do apartamento herdado da mãe recém-falecida. Na época, Daniel Filho se apressou em comprar os direitos da adaptação cinematográfica da peça, mas só conseguiu concretizar o projeto dez anos depois, dentro de um orçamento de R$ 3 milhões. Cineasta bissexto, Daniel também assumiu a direção. Falabella participa do roteiro. Nas telas, A partilha – cartaz nacional na sexta-feira 8 – preserva, assim, seu viço teatral, sem correr grandes riscos.
É um filme correto, de fácil identificação, principalmente entre as mulheres. Como nas fitas recentes de Domingos de Oliveira – dramaturgo e cineasta da mesma geração de Daniel Filho –, às vezes a sensação é a de estar diante de um teatro filmado. Mas o artifício não incomoda, até porque a história se sustenta pela empatia criada por suas protagonistas Gloria Pires, Andrea Beltrão, Paloma Duarte e Lilia Cabral. Elas seguem tipos definidos. Gloria é a irmã quadrada, Andrea a destrambelhada, Lilia a perua, enquanto a caçula Paloma é homossexual. As quatro, no entanto, não se deixam levar pelas facilidades do caricato e conduzem com leveza o tom sempre sentimental de A partilha. Daniel Filho não é um estilista das câmeras, mas sabe contar histórias do cotidiano.