09/03/2005 - 10:00
A imponência do edifício-sede no centro do Rio de Janeiro pode parecer excessiva para uma estatal de Terceiro Mundo. Mas nem se compara à robustez das cifras que a Petrobras apresenta ao Brasil sempre que divulga seus balanços. Em 2004, foram R$ 17,9 bilhões de lucro líquido, com aumento de R$ 12,5 bilhões nas vendas em um ano. Para 2005, a maior empresa da América do Sul anuncia investimentos de R$ 30 bilhões (mais do que o dobro dos R$ 12,5 bilhões que a União prevê para obras de infra-estrutura) e reitera a promessa de realizar o sonho da auto-suficiência em petróleo. Com tecnologia de despertar inveja em japonês, a companhia segue imbatível na busca do óleo em águas profundas e na abertura de frentes produtivas, como a volta ao setor petroquímico, do qual está afastada desde a década passada. É um retorno ao passado, mas de olho no futuro.
Aos 51 anos, o engenheiro Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento, é um exemplo da receita seguida pela Petrobras para manter sempre ascendentes as curvas do gráfico de resultados: a capacitação técnica e a valorização dos funcionários de carreira. Nascido na pequena Telêmaco Borba, no Paraná, formou-se em engenharia na Universidade Federal do Paraná e passou em um concurso da Petrobras para se especializar em Instalações no mar. Trabalhou em Vitória (ES), Itajai (SC) e Macaé, no norte fluminense, quando a Bacia de Campos só tinha uma plataforma produzindo dez mil barris/dia. Ao sair, em 1995, eram 600 mil barris. Trabalhou em exploração, produção, operação e em maio de 2004 chegou à Diretoria de Abastecimento. À frente do retorno da estatal à petroquímica, garante: em 2005, teremos a auto-suficiência, com ou sem estagnação.
No planejamento estratégico de 2004, propusemos o
retorno porque é uma atividade com ganhos empresariais importantes.
As empresas de petróleo no mundo todo participam da petroquímica com
mais intensidade. Mas voltamos dentro de alguns princípios. Primeiro,
não queremos ser apenas fornecedores de matéria-prima. Segundo, vamos
viabilizar novos empreendimentos porque existe demanda sendo suprida
pela importação. Vamos ocupar esse espaço. Terceiro, queremos gerar muitos contratos, operações e empregos.
Exatamente. Se eu só comprar mais ações, o que vou gerar de novo? Zero. E de desenvolvimento e empregos? Zero. Os novos projetos geram empregos e exportações e melhoram a balança de pagamentos.
Ao contrário. Vamos ter sócios em todos os projetos. Eu crio um projeto e chamo para uma sociedade as empresas no Brasil com tecnologia, mercado, capacitação técnica e financeira. É uma maneira de fortalecer a indústria local.
Foi algo negativo para a Petrobras e o País. Tivemos uma estagnação do setor, ficamos muito tempo parados e nada foi feito. O projeto mais recente agora é a Rio Polímeros, para processar o gás natural de Campos. Nossa volta é um reaquecimento, uma oxigenação do processo. Vamos fazer tudo com parcerias, alavancar as empresas para termos projetos em escala mundial, com capacidade de competir aqui e no Exterior.
Em termos petroquímicos, estamos muito atrás de tudo. Nessa atividade você tem de ter escala ou não compete em preço. Os projetos que vamos fazer têm escala mundial, preço competitivo no mercado interno para reduzir a
presença dos estrangeiros e exportar o excedente, especialmente os produtos
de segunda e terceira gerações. Não queremos ficar exportando só matéria-prima, sem valor agregado.
Como brasileiros sempre esperamos aumento de demanda e auto-suficiência. É óbvio que não é bom alcançarmos a auto-suficiência com estagnação, restrição de demanda. O interessante é a economia crescer sempre e alcançarmos a auto-suficiência pelo aumento de produção. Nossa meta, com os projetos para 2005, é alcançar a auto-suficiência este ano pelo incremento da produção, mesmo com o aumento do consumo.
A Rio Polímeros, que está sendo concluída, entra em operação no segundo semestre. Será o primeiro pólo no País a usar como matéria-prima o gás natural da Bacia de Campos. Vai produzir 540 mil toneladas por ano de polietileno (resina usada na indústria de plástico). Participamos com 16,5% e nossos sócios são os grupos Susano e Unipar e o BNDES. A outra unidade que estamos estudando com o governo do Estado é uma de petroquímica básica, tendo como matéria-prima o petróleo pesado da Bacia de Campos. É uma unidade de primeira geração, que vai usar o petróleo para extrair propeno, eteno, aromáticos em geral. São insumos para a segunda geração. Através deles você processa em outras fábricas o polietileno, polipropileno, fenol, uma série de produtos que são matéria-prima para a terceira geração e servem para fazer pára-choque de automóvel, gabinete de computador, copo de liquidificador, garrafa plástica, todo o segmento de plástico.
Na primeira geração estimamos um investimento de US$ 3,5 bilhões, mais US$ 3 bilhões na segunda. Na terceira, das indústrias de transformação, imaginamos mais US$ 2 bilhões. Para a primeira geração, estamos em fase avançada do projeto com o grupo Ultra e o BNDES e vamos avaliar se há espaço para outros sócios. Para a segunda geração, estamos definindo critérios para chamar outros sócios. A terceira não é do nosso escopo nem do grupo Ultra. São outras empresas. Somando todos os investimentos, calculamos US$ 8,5 bilhões. É o maior projeto no Brasil. Nossa intenção é colocá-lo em operação até 2010, montando simultaneamente algumas empresas de segunda geração. As obras de infra-estrutura começam em 2006 e estamos discutindo a localização com o governo estadual.
Trabalhamos com duas hipóteses: Itaguaí (região metropolitana do
Rio) e norte fluminense. Em Itaguaí já temos o terreno, mas o governo do
Estado nos procurou e apresentou a alternativa de Campos. Estamos avaliando os custos das duas áreas e as implicações ambientais em um grupo de trabalho com o governo estadual.
Está. Pelos dados que temos, o melhor local é o Nordeste, onde temos de produzir mais diesel, gás e gasolina. No Rio produziremos matéria-prima petroquímica. É bem mais abrangente e um investimento muito maior, de US$ 8,5 bilhões. Na refinaria do Nordeste, que terá a parceria da Venezuela, os investimentos serão de US$ 2 bilhões. O local não está definido, mas junto com os venezuelanos vamos decidir em seis meses
Não. Nossa visão sempre foi e será muito técnica e econômica. A unidade petroquímica deverá ser aqui porque temos o petróleo, a logística e o mercado adequados. Mas analisamos a refinaria no Nordeste porque lá é que temos a demanda. E só há uma refinaria na região, ao passo que no Sudeste temos uma no Rio, uma em Minas e quatro em São Paulo.
Na área do refino estamos prevendo até 2010 investimentos de US$ 8,6 bilhões. Desse valor, vamos gastar US$ 3,3 bilhões na melhoria da gasolina e do diesel. As empresas de petróleo, de modo geral, estão investindo pesadamente nisso. É uma demanda da sociedade, atrelada ao Protocolo de Kyoto. Hoje temos uma gasolina com mil PPMs (partes por milhão) de enxofre e vamos chegar a 2010 com 50 PPMs. O mundo está nesse caminho e andamos juntos com o mundo. Talvez Estados Unidos e Europa, no próximo ano, consigam estar um pouco na nossa frente, mas em 2010 chegaremos a 50 PPMs. Para isso estamos colocando nas refinarias unidades de hidrotratamento que reduzem o enxofre. Assinamos um contrato de 25 milhões de euros com a francesa Axens, ligada ao Instituto Francês de Petróleo, que prevê a transferência dessa tecnologia de redução do enxofre. Com um grupo de engenheiros na França acompanho os projetos e vamos ter essa tecnologia. Estamos fazendo o mesmo com o diesel. Hoje vendemos o diesel metropolitano com 2.000 PPMs de enxofre e o diesel interior com 3.500. Já instalamos unidades de tratamento em refinarias do Paraná, Rio, Minas Gerais e São Paulo. Em 2010 nosso diesel interior baixará de 3.500 para 500 PPMs e o metropolitano vai estar em 50 PPMs, igual à gasolina.
Como os investimentos são importantes e vão agregar muito valor, fizemos uma reavaliação e decidimos antecipar alguns. A refinaria estava prevista para entrar em operação em 2011. Como tivemos em 2004 um crescimento de 5% no mercado, o dobro do que imaginávamos, vamos antecipar alguns investimentos. Em vez de começar a nova refinaria do Nordeste em 2007, possivelmente será em 2006. São revisões feitas todo ano no planejamento estratégico, que é muito dinâmico, depende de mercado, demanda, insumo. Esse valor de US$ 1,1 bilhão vai crescer, mas ainda não dá para dizer quanto. Todos os projetos petroquímicos vamos fazer com sócios. Além da unidade do Rio, criaremos uma fábrica de polipropileno em Campinas, um pólo de ácido acrílico em Minas, um pólo de poliéster em Pernambuco com uma empresa italiana. São vários projetos em andamento, como a ampliação da PQU (Petroquímica União) em São Paulo.
O preço do petróleo tem referências internacionais, quer se importe, quer se exporte. Em 2002, houve a abertura total do segmento no Brasil e qualquer pessoa jurídica pode, com autorização da ANP, importar ou exportar petróleo ou derivados. Se uma empresa vem para o Brasil, descobre um poço e vai processar o petróleo em qualquer lugar, usará a referência de preço internacional. A Petrobras também atrela seus preços ao mercado internacional. Em relação aos combustíveis, temos feito uma política
para atenuar as variações. Em 2004, o preço do petróleo apresentou uma volatilidade grande, de
US$ 30 a US$ 55. No gás, gasolina e diesel, procuramos imprimir uma visão de preços de mais longo prazo, não repassando para o mercado essa volatilidade toda. Vamos acompanhando e, quando verificamos uma mudança de patamar, para mais ou para menos, aumentamos ou reduzimos. No início de 2004 tivemos reduções do preço, na metade do ano um aumento e no fim do ano outro aumento. Mas sempre trabalhando com referências internacionais.
Espero que não. Eles vão gerar fenômenos bastante interessantes para o País. Vamos reduzir as importações, o que melhora a balança de pagamentos. Haverá aumento de impostos, arrecadação e empregos. Mais de 90% dos investimentos são no Brasil e normalmente utilizamos empresas com controle acionário brasileiro. Nossos investimentos têm elevado índice de nacionalização.
É altamente positivo olhando o lado econômico. Desde que estou aqui não vi qualquer projeto deixando de ser posto em prática para não comprometer a estabilidade econômica.