Os caminhos da ciência são árduos e a história é pródiga em exemplos disso. O polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) sofreu muito e, por medo da repressão religiosa, demorou em divulgar seus estudos demonstrando que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário, como se acreditava. Tempos depois, Galileu Galilei (1564-1642), um italiano nascido em Pisa, teve de explicar ao pessoal da Inquisição por que estava divulgando as mesmas idéias de Copérnico. Suas explicações foram suficientes para livrá-lo da fogueira, mas não da prisão. Ele foi considerado culpado por heresia e passou o resto da vida preso. Menos sorte teve Giordano Bruno (1548-1600). O filósofo italiano nascido em Nola, Nápoles, também foi um dos divulgadores da teoria de Copérnico, mas a Inquisição não aceitou seus argumentos e o torturou durante os oito últimos anos de sua vida. Bruno foi queimado vivo em Roma, em 16 de fevereiro de 1600.

Ainda que menos drástico, Oswaldo Cruz é o exemplo brasileiro mais veemente dos duros caminhos trilhados pela ciência em sua cruzada para melhorar a humanidade, apesar dela própria. Médico sanitarista, ele era diretor-geral de Saúde Pública em 1904, na cidade do Rio de Janeiro, e devido a um surto de varíola implantou a vacinação obrigatória para toda a população. A incompreensão e o preconceito foram tantos que em 13 de novembro se iniciou um levante popular contra a medida, com distúrbios, greves e tiroteios que passaram para a história como a Revolta da Vacina.

A teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882), o naturalista inglês que viajou o mundo a bordo do Beagle, também foi vista com ira e desconfiança. Os religiosos interpretavam a tese de Darwin sobre a seleção natural como a tentativa de eliminar a figura de um criador.

O mais recente embate enfrentado pela ciência foi em Brasília e teve final feliz. Depois de horas de discussão, na noite da quarta-feira 2 foi votada e aprovada a Lei de Biossegurança, que permite o uso de células-tronco retiradas de embriões humanos. Isso traz esperanças concretas para uma humanidade menos vulnerável a doenças. O feliz desfecho da votação teve em Severino Cavalcanti, o recém-eleito presidente da Câmara, um personagem importante.

Ele era temido por sua postura conservadora, inclusive com posição declarada contrária ao uso das células-tronco embrionárias. Mas ele antecipou sua posição aos repórteres Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz, em entrevista a ISTOÉ, edição de 23/2/2005, na semana de sua eleição. Perguntaram os repórteres: “O sr. é contra as pesquisas de células-tronco, como prevê a Lei de Biossegurança?” Como em uma demonstração prática da teoria darwiniana, Severino respondeu: “Isso eu vou analisar porque eu também, às vezes, evoluo.” E, pela evolução de Severino, os brasileiros aplaudem e agradecem.