09/05/2007 - 10:00
VIRADA Simone mudou de profissão para estar mais perto dos filhos Luca (maior) e Nuno
A falta de tempo é a maior reclamação da mulher contemporânea. Filhos, cuidar da casa e dar conta do trabalho são tarefas árduas para a mãe que sai cedo de casa e chega exausta no final do dia. E ainda vai fazer o lanche das crianças para o dia seguinte, tomar a lição e, quem sabe, namorar o marido. A queima de sutiãs na década de 70 levou as mulheres a uma série de conquistas, como melhores empregos, mas não eliminou a dupla jornada. A maior parte das brasileiras – independentemente da classe social – sustenta a família ou contribui ao menos com metade do orçamento familiar. Então, como dar conta da filharada e ter uma carreira de sucesso sem sentir culpa? Muitas mães ainda se sentem penalizadas ou por não desempenhar a maternidade como sonharam ou por não se dedicar à carreira como gostariam. Quando as crianças são pequenas, o conflito é ainda maior. Mesmo aquelas que optaram por ter filhos mais tarde, e teoricamente teriam mais condições de equilibrar com habilidade essa balança, se cobram.
Para a historiadora Maria Izilda Matos, do Núcleo de Estudo da Mulher da PUC-SP, as mulheres são educadas pelas instituições – igreja, escola e família e até a própria medicina – a reforçar a idéia de ter a responsabilidade pela família e, principalmente, pelas crianças. Essa responsabilidade dá mais poder à mulher, mas, ao mesmo tempo, eterniza a culpa nos cuidados com a criança. Se o filho adoece, expressa a ausência materna ou vai mal na escola, a mãe logo se sente culpada. Afinal, mãe não foi feita para errar. “A maternidade não é instinto. Ela é uma construção social histórica que culpabiliza a mulher”, afirma a historiadora. Mas há uma geração dessas mulheres contemporâneas que vem questionando esse comportamento e trata de resolver essa equação de diferentes maneiras.
Com maestria e coragem, Simone Dias, 39 anos, resolveu dar uma guinada em sua vida quando ficou grávida do segundo filho, Luca, hoje com quase três anos. Simone sempre trabalhou como jornalista e criou sua filha mais velha, Gabriela, 15 anos, driblando os horários rígidos e as chefias. A segunda gravidez lhe trouxe a reflexão de uma forma diferente de maternidade e o desejo de estar mais próxima dos filhos. Ela abandonou a escrita para montar a floricultura Estação Flores e Folhas, a poucas quadras de sua casa. A mudança radical foi tão benéfica que a encorajou a aumentar a prole, e assim veio Nuno, com seis meses. Hoje Simone tem as manhãs livres para os filhos, consegue levá-los à escola e ainda almoça em casa. “O filho dá uma grande força para a gente. Me descobri uma pessoa multifacetada”, afirma a empresária. Mas nem sempre foram flores. Ela conta que não teria montado o negócio se não fosse o apoio do marido, o sociólogo Gustavo Venturi. Em muitos casos, a figura masculina é decisiva para que a maternidade não tolha a mulher.
A divisão de tarefas nos trabalhos domésticos por vezes é vista como algo excepcional. Homens que trocam fraldas e fazem papinha são levados ao Olimpo. Não deveria. Afinal, hoje o descendente de Adão não é mais o único provedor. A palavra “ajuda” na casa da secretária Márcia Foltran, 41 anos, por exemplo, é proibitiva. Ela faz questão de dizer que o marido, o fotógrafo Alexandre Puppin, divide com ela os afazeres do lar. Depois de um dia exaustivo, ao chegar em casa, Márcia encontra sua filha Sofia, de quatro anos, de banho tomado e seu pequeno Nicolas, de seis meses, alimentado. Mesmo assim, a secretária se esmera na cozinha e prepara as refeições dos dias seguintes. Como muitas brasileiras, ela deixa a casa às 7 da manhã e só retorna à noite. E, também como muitas compatriotas, ela vive o conflito da ausência. “Os primeiros passinhos do Nicolas eu vou perder”, diz ela com certa angústia. Apesar das explicações aos filhos sobre a importância de seu trabalho, eles cobram sua presença. Ela bem que gostaria de trabalhar menos horas, mas as “circunstâncias financeiras não permitem”.
MARIDÃO Ao chegar em casa a secretária Márcia encontra a filha Sofia (à esq.) banhada e o menino Nicolas alimentado
As mulheres que não foram sorteadas na loteria com um maridão como Simone e Márcia sofrem ainda mais. A terceirização dos cuidados dos filhos é sempre um dilema. Escola ou babá? Assim como existem escolas péssimas e babás maravilhosas, o vice-versa também vale. Os especialistas costumam dizer que a idade ideal para se colocar uma criança na escola é a partir de um ano. A escolinha pode estimular mais seu filho ao aprendizado e proporcionar maior convívio social. Ao mesmo tempo, existe o trabalho de levar e ir buscar e o perigo do contágio das doencinhas. Por sua vez, as mães que delegam seus filhos às babás podem deixá-los expostos a uma outra cultura, como falar errado. Em compensação, muitas dessas profissionais são dedicadas, carinhosas e podem prover mais segurança às crianças, principalmente se elas forem pequenas. A historiadora Maria Izilda afirma que o ideal seria o estabelecimento de políticas públicas para a expansão de creches, sejam elas privadas ou públicas. Pela Constituição brasileira, esse direito está garantido às crianças de zero a seis anos. Porém, na prática, poucas empresas cumprem à risca esse direito da mãe. Nas classes mais baixas, se não há creches, a solução das trabalhadoras é deixar as crianças com vizinhos, conhecidos ou filhos mais velhos.
Diferentemente dos anos 70, hoje não existe mais um padrão da mãe trabalhadora. Cada uma escolhe a melhor maneira de criar os filhos, dependendo das condições. Umas trabalham o dia inteiro e se sentem realizadas na profissão. Outras argumentam que o bom mesmo seria trabalhar meio período e estar o outro com a prole. Existem muitas maneiras de demonstrar proximidade com o filho, seja por um telefonema no meio da tarde, seja saindo um dia mais cedo para ir buscá-lo na escola. O importante é que nessa independência feminina a criança continue a ser prioridade e que, seja lá qual for a escolha da mãe, ela possa crescer em um ambiente de confiança e segurança.
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PRESENTES DE ÚLTIMA HORA |
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Todo ano tem sempre aquele filho que deixa o presente da mamãe para a última hora. Mas tudo bem. Ainda há tempo. O que não dá é para aparecer de mãos vazias no tradicional almoço do dia delas. ISTOÉ aproveita a ocasião e dá algumas dicas de presente para os atrasadinhos. Elas vão desde uma retrô jukebox, a famosa caixa de música das lanchonetes americanas da década de 50, até um charmoso kit de sombras da Givenchy, inspirado nos mestres chocolateiros parisienses. Segundo Aguinaldo Leandro, maquiador internacional da casa francesa, o mimo promete deixar as mamães com “olhos intensos”, que devem ser combinados com a pele translúcida e os lábios cor de mate. Um arraso! | |||||||||||
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