Os ministros Tarso Genro e Dilma Rousseff são, sem dúvida, nomes fortes no segundo mandato de Lula. Irão compor o grupo mais próximo do presidente. Mas, tão logo terminou a apuração dos votos, ambos provocaram irritação. Com palavras diferentes, ambos disseram publicamente que estaria terminada a era Palocci para ter início uma era de desenvolvimento. As declarações soaram no mercado como indicativo de que o presidente poderia promover mudanças radicais na política econômica. Lula precisou reagir de imediato. Disse que não haverá mudanças radicais e que o trabalho realizado por Palocci foi, na verdade, o colchão de sustentação para uma política mais desenvolvimentista. É para evitar situações como essas que Lula, nesse segundo mandato, pretende ampliar o seu grupo de conselheiros, inclusive com gente de fora do PT.

O modelo anterior, montado no início do governo, implodiu ao ser atingido pelas denúncias de corrupção. O termo núcleo duro era mesmo apropriado para o grupo inicialmente formado por José Dirceu na Casa Civil, Luiz Gushiken na Comunicação de governo, Antônio Palocci na Fazenda e Luiz Dulci na Secretaria Geral. A máquina executiva e política de Lula era comandada com mãos de ferro. Ali se dava o ponto final das decisões de governo. “Lula está convencido de que esse sistema não funciona. Ele quer ampliar o leque de conselheiros próximos”, afirma um dos políticos que deverão fazer parte desse novo modelo. “O maior desafio do presidente, porém, será convencer a cúpula do PT a abrir esse espaço. Essa turma vai reagir”, alerta ele.

Mas o PT não tem o que reclamar. Os rumos das ações de governo continuarão sendo traçados por membros do partido, só que longe do comando paulista da legenda. Dilma e Tarso continuarão na gerência executiva e política desse novo formato. Lula não está disposto a enfrentar outras crises por causa de setores petistas que ele conhece bem. Para isso, vai acompanhar de perto, inclusive, quem comandará em 2007 o PT. Ele já trabalha para que um de seus conselheiros, seja Tarso, seja Dulci ou mesmo Marco Aurélio, assuma a rédea da direção do PT. Lula aprendeu a dura lição: amigos, amigos. Governo à parte.

Ampliação é a palavra-chave do segundo mandato. A influência junto ao presidente será reforçada por novos conselheiros que estarão mais fora do que dentro do PT. Delfim Netto, por exemplo, não precisará ocupar um ministério para ter voz nesse novo núcleo. O mesmo pode-se dizer de Ciro Gomes (PSB-CE), Jader Barbalho (PMDB-PA) e até do governador de Minas, o tucano Aécio Neves, que mantém estreitas relações com o presidente. A idéia de Lula é manter dois centros de comando. Um terá autoridade na Esplanada dos Ministérios, tocando a máquina. O outro estará mais voltado às relações com os governadores e com o Congresso.

Antes mesmo de estourar o escândalo do dossiê, Lula havia criado um grupo que se reunia semanalmente para discutir os rumos da campanha. Participavam dele Ciro Gomes, os presidentes da Câmara e do Senado, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP) e o deputado Jader Barbalho. No segundo turno, esses conselheiros deram o tom da batalha ao observarem a necessidade de mobilizar a militância e mais: que era preciso criar uma diferença entre Lula e a proposta tucana. Da experiência dos políticos que faziam parte daquele grupo, extraiu-se uma estratégia vitoriosa. É isso o que ele deseja para o novo governo.