Humor do presidente da República não poderia estar pior. O destempero demonstrado na entrevista à jornalista Teresa Cruvinel, publicado na quarta-feira 23, no jornal O Globo, constitui um bom exemplo. Nem mesmo o fato de livrar-se de Antônio Carlos Magalhães consola FHC. E o motivo desse horrível estado de espírito é a célere deterioração de seu governo, que, salvo alguma mágica, inviabiliza o projeto tucano de manutenção do poder, ao se aproximarem as eleições de 2002.

Tudo isso porque o humor do povo brasileiro anda péssimo. Bem pior que o do presidente. E a culpa é do racionamento. Ou melhor, dos responsáveis pelo racionamento: o presidente e sua turma. O mau humor vem tanto daqueles que consomem 200 kWh quanto dos que ultrapassam 500 kWh ou mais de 2.000 kWh. Nenhum deles se conforma em pagar a conta pela incompetência do governo. Fossem hoje as eleições, raríssimos seriam os votos para a turma de FHC. E não ajuda nada tripudiar. Como fez aquele membro da Comissão do Apagão, o sr. Mauro Arce, ao sair com a seguinte provocação: “Vamos pôr banda na porta do cara e cortar a luz.” O custo apagão, como vem sendo chamado o impacto político causado pelo racionamento, é incalculável. A inépcia do Planalto no episódio está transformando o País – e não só a nossos olhos.

Em relatório do Santander Central Hispano Investment, com o título “Quem apagou a luz”, os investidores americanos são informados de que a crise de energia brasileira não é fruto só da falta de chuvas, “mas também de investimentos”, e por isso a confusão deve durar três anos, tempo para que as usinas termelétricas comecem a funcionar. O relatório afirma ainda que o PIB vai cair; o dólar, subir, etc., etc., etc.

Já para Fernando Henrique, durante a entrevista acima citada, “o racionamento passa, o povo está colaborando, vai chover em setembro, e haverá muita luz no Natal, se Deus quiser”.