08/11/2006 - 10:00
A montanha de votos obtida no domingo 29 não será suficiente para purificar o governo Lula e livrar suas cabeças coroadas das investigações, inquéritos e processos na Polícia Federal, no Ministério Público e na Justiça. O mensalão, que parece esquecido no meio político, está longe de ser um assunto do passado nas esferas judiciais. O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que disparou a denúncia-petardo contra 40 personagens do escândalo, pilota a segunda etapa da investigação para apresentar uma nova denúncia no início do segundo mandato. O inquérito está na PF e, quando voltar para o MP, a nova denúncia será esquadrinhada.
A peça acusatória terá dois eixos. O primeiro será centrado na medida provisória que deu ao BMG a preferência na operação do crédito consignado para aposentados. Na mesma peça, o procurador denunciará parlamentares, como o petista José Mentor, que não compuseram a primeira leva de denunciados. Antes disso a primeira denúncia ainda será julgada pelo STF, que se debruçará sobre o assunto a partir de quinta-feira 9. O ministro-relator, Joaquim Barbosa, quer desmembrar o processo e remeter à Justiça comum todos os réus que não forem parlamentares reeleitos, caso do publicitário Duda Mendonça, acusado de evasão de divisas. O desmembramento aceleraria o processo, mas o procurador-geral é contra, pois teme que sentenças diferentes para casos semelhantes dêem margem a recursos.
A maior preocupação do Palácio, no entanto, continua sendo o escândalo da compra do dossiê contra os tucanos e o pedido de impugnação da eleição de Lula, feito por PSDB e PFL. Ainda no domingo, urnas abertas, o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, classificava como “factível” a possibilidade de cassação do registro da candidatura do presidente reeleito. Há quem entenda, porém, que a compra do dossiê com dinheiro ilegal pode até configurar crime contra a ordem tributária, mas não um crime eleitoral, já que a operação comprovadamente não beneficiou a candidatura Lula. O TSE está para ouvir 20 testemunhas, incluindo figuras-chave do PT, o que dará munição à oposição.
O governo continuará também a ser atormentado pelos estilhaços de outros esquemas, como o dos sanguessugas. Outra investigação potencialmente devastadora diz respeito ao caixa 2 de Furnas, arrolada pelo ex-deputado Roberto Jefferson. Se algo acalma os petistas é o fato de que, nesses e em outros esquemas, a lupa também está sobre a oposição. Em 30 dias a PF deverá concluir a investigação sobre a origem do valerioduto, que pega em cheio o PSDB e a campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas, em 1998. Para a turma do “deixa disso” é a demonstração de que, em desvios éticos, oposição e situação são co-irmãs. É justamente nisso que Lula se apega para evitar uma crise institucional: os dois telhados são de vidro.