23/06/2000 - 10:00
Quando o provedor de acesso à Internet iG chegou ao mercado brasileiro muita gente da concorrência reclamou. Os mais exaltados foram à Justiça. Alegavam que não cobrar pelo serviço, o principal diferencial do provedor, ia contra as regras da concorrência saudável. Menos de seis meses depois, a empresa dirigida pelo publicitário Nizan Guanaes comemora dois feitos e, mais uma vez, vira alvo de comentários. O primeiro foi a entrada de dois novos sócios estrangeiros de peso, os fundos de investimentos UBS Capital, da Suíça, e o americano TH Lee Putman. O anúncio do negócio aconteceu semana passada em São Paulo, em uma concorrida entrevista coletiva. Os grupos estrangeiros pagaram US$ 75 milhões para ficar com 12% do iG. O mercado logo fez as contas e concluiu que o provedor de acesso já vale respeitáveis US$ 625 milhões. Foi a segunda entrada de sócios no negócio lançado em janeiro pelos grupos Opportunity e GP Investimentos. A primeira ocorreu com a venda de uma participação minoritária para as operadoras de telecomunicação Telemar e Brazil Telecom. Mas a razão do mau humor da concorrência parece vir de outro front: do crescimento do número de usuários que compõem a base do iG. Pesquisa realizada pelo Ibope, com 15 mil entrevistados, mostrou que o iG empatou com o seu concorrente mais forte, o Universo Online (UOL), na preferência dos internautas que acessam a rede a partir de um computador instalado em casa. O iG foi escolhido por 25% dos entrevistados, enquanto o UOL ficou com 24%. O empate técnico fica por conta da margem de erro da pesquisa, de 1%.
Vitaminado pela injeção de capital, a estratégia do iG a partir de agora será consolidar a posição conquistada nesses meses de intensa campanha publicitária, tendo à frente a figura da cachorrinha Micky. O resultado das campanhas do iG aparece, por exemplo, no tamanho da base de usuários. Hoje com dois milhões de internautas cadastrados, a tendência é que cresça em um ritmo mais acelerado que os provedores pagos. Ao menos é o que também mostra a pesquisa do Ibope, quando procurou detectar as preferências dos novos usuários. A resposta é que eles estão preferindo entrar na rede usando um provedor que não cobra pelo acesso.
Ainda que o acesso seja gratuito, o iG, claro, não está no mercado para brincar. O objetivo, como no caso dos provedores pagos, é ganhar dinheiro. Até o final do ano, por sinal, a estimativa é uma receita de US$ 30 milhões, sendo que desde janeiro o faturamento apenas com publicidade foi de US$ 14 milhões. “Essa performance mostra que estamos conseguindo entender o que o mercado publicitário quer da internet”, diz Guanaes. Em entrevista a ISTOÉ (abaixo), ele aproveita para rebater uma crítica recorrente da concorrência, segundo a qual o iG, por ser gratuito, deveria estar crescendo com velocidade ainda maior.
Receitas – A estratégia para aumentar a receita é ampliar o leque de serviços. Pretendem faturar com publicidade, comércio eletrônico, aluguel de espaço para lojas virtuais, licenciamento de produtos com a marca iG e a venda de produtos, como no caso da campanha do iG flores. Com isso, Guanaes vai mudar radicalmente o “mix” de receitas. Hoje, 60% do faturamento provém de publicidade e 40% são faturados com comércio eletrônico. Outra fonte importante de faturamento deve vir de novas tecnologias para a Internet. De um lado, o serviço SELig, que irá permitir a distribuição de conteúdo via telefone celular. Do outro, o sistema batizado como Bbig, usando o sistema de banda larga. Os dois serviços, é bom a concorrência estar avisada, serão pagos.
“O mercado é muito fofoqueiro” | |
Depois de 20 anos no mercado publicitário, no qual se firmou como um dos profissionais brasileiros de maior sucesso, Nizan Guanaes deu uma virada em sua carreira quando decidiu assumir o iG. Muita gente do ramo estranhou a decisão de se aventurar no mundo da economia virtual. Na entrevista a seguir, ele fala do novo desafio, cutuca concorrentes e reafirma a sua aposta na Internet grátis. ISTOÉ – A sua experiência como publicitário ajuda a comandar o iG? ISTOÉ – A concorrência parece estar incomodada… ISTOÉ – Os investidores que estão colocando dinheiro no negócio estão confiantes em manter o acesso gratuito? ISTOÉ – Então o acesso gratuito para o iG veio para ficar? |