A CUT, a Fiesp e a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) lançam no dia 15, em um ato no Sindicato dos Bancários de São Paulo, uma campanha pela ampliação do Conselho Monetário Nacional, formado hoje pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central. As três entidades, que têm criticado duramente as altas taxas de juros determinadas pelo BC, querem a participação da sociedade civil no Conselho. Uma carta será encaminhada ao presidente Lula. O presidente da CUT, Luiz Marinho, falou a ISTOÉ sobre essa reivindicação, o projeto de reforma sindical enviado ao Congresso Nacional na quarta-feira 2 e as críticas a um sindicato cutista que estaria apoiando torturadores da Febem-SP:

ISTOÉ – Por que o pedido de ampliação do Conselho Monetário?
Luiz Marinho –
Queremos fazer esse debate com a sociedade e o governo. Vamos apresentar uma proposta. A Fiesp defendeu a idéia (Paulo Skaf, em entrevista a ISTOÉ 1845 em que defendeu a formação da autoridade produtiva) e nós já a defendíamos antes. O próprio Lula fez menção à necessidade de ampliação.

ISTOÉ – Como nasceu o projeto de reforma sindical?
Marinho –
É o resultado de negociações encaminhadas pelo Fórum Nacional do Trabalho, coordenado pelo Ministério do Trabalho, com trabalhadores e empregadores. Tem o apoio de quatro centrais sindicais: CUT, Força Sindical, SDS e Central Autônoma dos Trabalhadores.

ISTOÉ – Por que a CUT o apóia?
Marinho –
O Brasil hoje tem 12 mil sindicatos de trabalhadores, boa parte sem nenhuma representatividade. Somente numa empresa como a Volkswagem existem 40 sindicatos. Têm o dos metalúrgicos – que realmente investe, negocia e representa – e os sindicatos das secretárias, dos telefônicos, dos seguranças, bombeiros e desenhistas, entre outros. Na greve, só um trabalha. Os outros não mandam nem telegrama de solidariedade. Do imposto sindical, eles vão atrás. E todos os trabalhadores da Volks se beneficiam do acordo dos metalúrgicos do ABC, que acabou com o imposto sindical. Isso vai mudar. Acaba o sindicato de categoria e nasce o sindicato por ramo de atividade.

ISTOÉ – Quais outras mudanças?
Marinho –
Hoje existe o poder normativo da Justiça do Trabalho. A maioria dos sindicatos não negocia. Vai para o dissídio coletivo. Não teremos mais isso. Vão acabar os sindicatos fracos e as confederações antigas.

ISTOÉ – Há críticas de que o Estado terá muita interferência?
Marinho –
Quem diz isso não atentou de forma detalhada para o projeto.

ISTOÉ – Um sindicato da CUT foi acusado de apoiar torturadores na
Febem-SP. O que houve?
Marinho –
O secretário de Justiça de São Paulo, Alexandre de Moraes, resolveu fazer uma mudança radical na Febem. Isso não se questiona. O problema é o jeito. A última crise e o espancamento de um jovem foram articulados no gabinete do secretário, segundo denúncias. Um coronel aposentado da PM, chamado Xavier (que foi removido da direção de divisão) articulou o espancamento. De uma hora para outra, o sindicato é culpado. Mas a culpa é do governo, que dirige a Febem há muito tempo. Os 1.751 trabalhadores demitidos não são todos torturadores. O sindicato cometeu equívocos, mas a Febem só muda quando tiver pequenas unidades.