hélcio nagamine

TROCA Selma não quis fazer cirurgia para tratar miomas. Ela se submeteu à tecnica e diz que está bem

Uma terapia hoje proibida está provocando dor de cabeça à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deixando entidades médicas em alerta. A técnica chamada de auto-hemoterapia promete curar de uma simples acne até doenças graves como o câncer. Com tal apelo, vem fazendo sucesso entre os brasileiros. Agora, de modo clandestino. O procedimento consiste em retirar o próprio sangue para reaplicá-lo imediatamente no músculo do braço ou das nádegas. Os adeptos do método acreditam que esse processo provoca uma super reação do sistema imunológico que seria capaz de destruir bactérias, vírus e tumores malignos.

Um dos fatores que colocou o procedimento na moda foi a divulgação de um vídeo em que o médico carioca Luiz Moura dá dicas de como utilizar a auto-hemoterapia. As “lições” se espalharam e até farmácias estavam usando o método. O vídeo é vendido a R$ 40 pela internet e por telefone. “É uma técnica simples e absolutamente inocente”, diz ele no filme. Os conselhos de medicina não acharam nada disso. “Não há na literatura médica referências que recomendem essa prática”, afirma Márcia Rosa de Araújo, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj). “Como um único método pode servir para combater tantas doenças?”, questiona Carlos Chiattone, presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. Antes da proibição, muita gente aprovava a técnica. A psicóloga Selma Rezende, de São Paulo, buscou a terapia para tratar miomas. “O ginecologista indicou cirurgia, mas pesquisei outras alternativas”, conta. Ela se livrou dos sintomas após 12 sessões de auto-hemoterapia. Em Olinda (PE), a secretaria de saúde fez testes em 15 pacientes que sofriam de males articulares. Eles não têm mais dores. Os doentes não deixaram de tomar os remédios. A secretaria aguarda uma possível aprovação para ampliar a pesquisa clínica.

Dárcio de Jesus

Fora situações especiais como essa, ninguém mais poderá se submeter à técnica. Estabelecimentos serão multados e profissionais punidos. “No caso do médico Luiz Moura, abrimos sindicância que poderá resultar em sua cassação”, garante Luís Fernando Moraes, diretor do Cremerj. O problema é que há um sério risco de que a auto-hemoterapia continue a funcionar, desta vez na clandestinidade.