02/05/2007 - 10:00
DIREITA Sarkozy conta com o apoio
de Chirac. SQUERDA Royal é aposta da intelectualidade de Paris
Os socialistas franceses, extasiados com a qualificação de sua candidata Segolene Royal ao segundo turno das eleições presidenciais, acreditam que finalmente a esquerda mostrou sua força. Na última corrida ao Palácio Elysee, em 2002, o ultradireitista Jean-Marie Le Pen envergonhou a turma abiscoitando o direito de ir para o segundo turno contra o presidente conservador Jacques Chirac. Era uma meia-volta à direita que causou rangeres de dentes na intelectualidade parisiense. Agora, com os 25,8% dos votos obtidos por Royal – contra 31,1% do rival Nicolas Sarkozy, acreditam que há esperanças de vitória no próximo dia 6. Este otimismo, porém, pode ser ilusão passageira. As bússolas de analistas independentes e observadores mais atentos indicam que a onda conservadora ainda tem muito fôlego. A própria Royal senta-se à ala direita do partido. Ela não propõe expulsão de imigrantes, mas prometeu cuidar para que as “badernas”, ou revoltas nas periferias miseráveis de Paris, nos cortiços onde se amontoam árabes variados, norte–africanos e latinos, recebam o máximo de repressão.
Já Sarkozy mergulhou nas águas turvas por onde nadam os eleitores de Le Pen e roubou algumas bandeiras proto-fascistas. “Sarkozy tem retórica mais refinada e procura redefinir metas racistas e de arrocho econômico de modo a parecerem mais civilizadas. Não são, é claro: só têm melhor embalagem”, diz a parlamentar socialista Annick Lepetit. Caso esta tenha sido mesmo a estratégia deste neoliberal gaullista, que conta com o apoio do ex-presidente Chirac, a jogada está dando certo. Como diz uma velha máxima no país: “Os franceses são todos esquerdistas. Mas, na hora de tirarem seus títulos de eleitor do bolso, olham para a carteira de dinheiro e, pensando nela, votam na direita.” Desta vez, a carteira pode acabar ajudando os socialistas.