09/03/2005 - 10:00
Um ato covarde e de selvageria. Assim foi classificado por magistrados, familiares da vítima e membros da sociedade civil o assassinato cometido pelo juiz Pedro Percy Barbosa de Araújo, 57 anos. No domingo 27, ele atirou na nuca do vigilante José Renato Coelho Rodrigues, 32 anos, dentro de um supermercado, em Sobral, município que fica a 233 quilômetros de Fortaleza. O juiz queria entrar para fazer compras, mas o vigilante avisou que o supermercado estava fechado, pois já passava das 22h. Diante da persistência, o gerente autorizou a entrada de Pedro, que, segundos depois, já perto do caixa, rendeu José Renato colocando suas mãos para trás e em seguida o executou com um tirou na nuca.
As imagens registradas pelo circuito interno de tevê da loja, reproduzidas pelos principais telejornais, chocaram o País. Elas mostram o vigilante implorando para não ser executado. Depois do disparo, o juiz fugiu, mas não se livrou da prisão como pretendia, embora tenha se apresentado 46 horas depois do crime. No mesmo dia, o Pleno do Tribunal de Justiça do Ceará, em sessão extraordinária, decidiu por unanimidade (16 votos) pela prisão preventiva e pelo afastamento do juiz da 2ª Vara da Comarca de Sobral, onde trabalha há seis anos.
Para maior espanto e perplexidade, o juiz preferiu ignorar as cenas registradas e disse em depoimento na quinta-feira 3 que o tiro por ele disparado foi acidental. Em Sobral, o motoboy Leandro de Castro Fernandes depôs como testemunha do crime. Ele disse que escutou o diálogo entre o juiz e o vigilante momentos antes do crime . O juiz poderá ser indiciado por homicídio qualificado, cuja pena vai de 12 a 30 anos de prisão. Na segunda-feira 28, durante o cortejo que seguia com o corpo do vigilante pelas ruas de Sobral, uma multidão entoava gritos de “assassino e covarde”, e mais adiante parou em frente ao Fórum, exigindo justiça. José Renato era pai de um menino de seis anos e arrimo de família – cuidava dos pais. Depois de dois anos desempregado, José Renato completara, no dia de sua morte, o terceiro dia de trabalho com a carteira assinada.