Oitavas de final da Copa do Mundo na África do Sul, domingo 27 de junho. Alemanha e Inglaterra em campo. Os britânicos se desdobram para transformar em empate um placar de 2 x 1 com vantagem para o adversário quando, aos 38 minutos do primeiro tempo, o meio-campo inglês Frank Lampard chuta a bola que bate no travessão, cai dentro do gol e quica para fora. Nenhum dos juízes percebe que a bola ultrapassou a linha e chegou a entrar no campo de gol, levando a torcida ao desespero. O baque psicológico abala a seleção da rainha Elizabeth, que cede 4 x 1, perde forças para reagir e, consequentemente, a vaga nas quartas de final, que daria direito a seguir na disputa pela taça. O erro foi admitido, tempos depois, pelo árbitro uruguaio Jorge Larrionda – e ficou conhecido como o mais grave cometido naquele Mundial. Mas nada mais podia ser feito. Para que não aconteça algo similar, a Fifa organizou a maior e mais detalhada transmissão que uma Copa do Mundo já teve. Serão 34 câmeras em cada campo (leia quadro). Os estádios contarão até com gravações aéreas realizadas em helicópteros. O resultado é um verdadeiro show de tecnologia, com um total de cinco mil horas de conteúdo produzido durante o evento. Haja mesa-redonda para discutir tudo isso no pós-jogo!

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CENTRO NERVOSO
O IBC, no Rio, é o centro de transmissão da Fifa onde
editores vão escolher e repassar as imagens via
satélite para as 466 redes de tevê licenciadas

No Maracanã, no Rio de Janeiro, palco da disputa final, 12 câmeras terão imagens transmitidas em 4K. Apenas para a tecnologia “linha de gol”, que avisa se a bola de fato entrou, são sete câmeras em torno de cada arco, todas de resolução 30 vezes mais potente do que o olho humano. A resolução 4K, também conhecida como ultra-HD é utilizada em cinemas digitais e foi testada pela Fifa durante a Copa das Confederações. Sua nitidez é quatro vezes a do Full HD, o que significa quatro vezes mais pixels – aqueles pontos microscópicos que formam as imagens digitais –, garantindo maior detalhamento na iluminação, nas cores e na textura dos objetos. Com ela, é possível aproximar a imagem sem deixar aquele aspecto quadriculado que gravações digitais costumam ter quando o zoom é muito alto, permitindo, assim, closes maiores nas expressões dos jogadores, além de captar no detalhe movimentos em alta velocidade. “O 4K levará os torcedores de todo o planeta a uma dimensão completamente nova de exibição, e marca a alvorada de uma nova era na transmissão esportiva”, afirma o diretor de tevê da Fifa, Niclas Ericson.

Três partidas terão a tecnologia 4K, todas realizadas no Maracanã. Serão os jogos das oitavas de final, no dia 28 de junho, das quartas de final, em 4 de julho, e a grande final, em 13 de julho. Também será limitado o número de telespectadores que terão acesso ao sinal, que será transmitido pela Oi TV para 11 cidades-sedes – São Paulo será a única de fora.

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O complexo de 34 câmeras instaladas em cada um dos estádios brasileiros é uma evolução do modelo utilizado na África do Sul. Foram incluídas duas novas supercâmeras lentas usadas para replays, uma de cada lado do gramado, posicionadas a seis metros de distância da linha lateral. As imagens gravadas em campo passam pelo crivo de oito editores de televisão da Fifa, que vão escolher as cenas a serem transmitidas para o Mundo. Elas serão enviadas ao IBC, o Centro Internacional de Transmissão, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro, onde outros especialistas vão repassar tudo via satélite para as 466 redes de tevê licenciadas e sublicenciadas a receber o material.

O IBC é o centro nervoso da transmissão. “Esta é a nossa conexão com o mundo. Daqui, todo o planeta vai se conectar à Copa”, diz Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa. São 55 mil metros quadrados dedicados a estúdios, salas de edição e até um parque de antenas, totalizando uma área que supera os 12 campos de futebol usados na competição. Um número tão alto de telespectadores quanto o de uma Copa do Mundo deixa claro que a transmissão é a etapa mais importante do evento, sendo a maior parte dos direitos vendida antes mesmo da escolha do país-sede. Na África do Sul foram 3,2 bilhões de pessoas assistindo aos jogos, marca que a Fifa pretende superar este ano. Apenas com marketing e direitos de transmissão, a Copa rendeu à entidade no ano passado aproximadamente US$ 1 bilhão, garantindo um recorde de faturamento. “Graças ao IBC, as imagens da Copa vão chegar à metade da população mundial”, afirmou o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes.

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Para ligar o centro de transmissões a todas as sedes, foi preciso criar uma rede que exigiu 740 quilômetros de fibra óptica e R$ 110 milhões, tudo a custo e responsabilidade da estatal Telebras. Após o evento esportivo, essa tecnologia será usada para levar internet de banda larga para diversos lugares do País, antes desconectados como parte do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). Esse é um dos legados que a Copa vai deixar para além dos portões das grandes arenas. 

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