No início, as palavras que vinham logo depois do www serviam para identificar o endereço de uma página na Internet. Não demorou para que se descobrisse que tais palavrinhas, os chamados domínios, poderiam gerar um verdadeiro mercado negro. Assim como a marca de um produto, o endereço na Web representa uma empresa, um serviço, uma personalidade no mundo online – e isso vale muito dinheiro. A venda de domínios explodiu nos EUA, a ponto de uma empresa da Califórnia desembolsar US$ 7,5 milhões pelo direito de usar o nome business.com. No Brasil, a onda começou com o registro de nomes de artistas da tevê. Agora, os mais prováveis candidatos à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, geraram um novo filão de negócios.

Para tirar proveito da oportunidade, um grupo de estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais criou o MarcaVirtual (marcavirtual.com.br), site dedicado a leiloar domínios. São mais de 538 endereços à disposição, mas só dois foram vendidos até agora. Rápido no gatilho, o paulista Marcelo Abrileri registrou de uma só vez os endereços fernandohenrique.com.br, thiagolacerda.com.br, anapaulaarosio.com.br e verafischer.com.br. Sua idéia, ele assegura, não era fazer fortuna fácil. “Pretendo ceder de graça os domínios aos donos dos nomes. Minha intenção era apenas oferecer os serviços da minha empresa de informática e fazer os sites deles”, diz Abrileri.

O comerciante paulista Antonio Castro não esconde suas intenções. Registrou como seu o domínio lula2002.com.br para oferecer a Luiz Inácio Lula da Silva, caso ele tente outra vez ocupar o Palácio do Planalto. “Não fixei valores, mas estou aberto a negociações”, revela Castro. O empresário paulista Roberto Andrade foi mais longe. Registrou de uma só tacada os endereços cirogomes2002.com.br, acm2002.com.br e acmpresidente.com.br. Voltou atrás depois que o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, entrou com uma ação judicial para reaver seu nome eletrônico. “Já pedi a anulação dos domínios”, avisa Andrade.

Para evitar surpresas, o virtual candidato do PPS à Presidência da República já garantiu a posse do domínio ciro2002.com.br, cuidado tomado pelo governador do Rio, Anthony Garotinho (garotinhopresidente.com.br) e pelo ministro Pedro Malan (malan2002.com.br), outro presidenciável.

Há quem garanta que é quase impossível proteger as personalidades dos larápios digitais. Os registros brasileiros são feitos exclusivamente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e coordenados pelo Comitê Gestor da Internet. “Não temos como saber se a página é de um fã-clube ou mesmo de um homônimo”, explica Demi Getschko, um dos integrantes do comitê. Apenas marcas notórias cadastradas no Instituto Nacional de Marcas e Patentes e nomes de domínio público estão a salvo. Ainda assim, há exceções. O domínio intelig.com.br não pertence à empresa telefônica, mas a uma firma de informática pernambucana. O mesmo aconteceu com o clube de futebol vasco.com.br, nome registrado pela empresa paulista Dialdata, que tem outros 123 domínios em seu poder.

Dona do endereço sasha.com.br, a carioca Claudete Cabaró não faz segredo de sua pretensão. “Tinha uma cachorrinha com esse nome e quando a Xuxa anunciou que batizaria sua filha de Sasha, resolvi registrar o domínio”, explica Claudete, que mantém um centro de artes na zona norte do Rio. Ela espera vender o nome eletrônico para a própria apresentadora. “Mas se alguém oferecer mais de R$ 50 mil, eu negocio”, confessa.