Em sua juventude, José Maria da Silva Paranhos Júnior, personagem que entrou para a história do Brasil como Barão do Rio Branco (1845-1912), engravidou a atriz belga Marie Philomène Stevens. Os dois se conheceram na casa de espetáculos carioca Alcazar e tiveram cinco filhos antes de se casarem no papel. Imperdoável escândalo para o futuro diplomata, que chocava o Império com atitude tão liberal. Embora tenha retardado dessa forma sua ascensão profissional, Rio Branco acabou se tornando um dos raros diplomatas no mundo a virar herói nacional. Com extraordinária habilidade, foi responsável pela ampliação do território nacional em 900 mil quilômetros quadrados, incluído o Estado do Acre. Esse tipo de pimenta sobre a vida pessoal não é exatamente o perfil da série Identidade Brasileira, que acaba de ser lançada pela editora Contraponto. Mas, no caso de Rio Branco, o estado civil foi determinante em sua trajetória. A ênfase desse lançamento é o legado de cada um para a história do País.

A editora – cujo maior sucesso editorial é Einstein, a teoria da relatividade especial e geral, que em quatro meses vendeu oito mil exemplares – iniciou a coleção com sete livros, cada um com cerca de 70 páginas. São ensaios biográficos com ilustrações e textos finais uniformizados, feitos por autores familiarizados com os perfilados. No caso do Barão do Rio Branco, a tarefa ficou a cargo do embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda. Todos os biografados têm em comum o fato de terem morrido no século XX e contribuído para a cultura ou a ciência, influindo na construção da identidade nacional. Entre eles, o compositor Heitor Villa-Lobos, o desbravador Cândido Rondon e o pai da aviação, Alberto Santos Dumont.

O leitor encontrará, por exemplo, a viagem feita pelo jovem Villa no interior do Brasil. O autor das Bachianas sofreu dois naufrágios, mas conseguiu salvar a si e a seu violão nadando. A aventura culminou quando acabou se refugiando entre índios antropófagos. Por outro lado, a coleção não chega a especular sobre as verdadeiras opções sexuais de Santos Dumont. “A idéia é mostrar que há muitos brasileiros de quem o País pode se orgulhar”, resume o editor César Benjamin.

Cada livro tem uma primeira edição de sete mil exemplares. Desses, a Petrobras vai distribuir gratuitamente cinco mil livros a professores e instituições. Os dois mil restantes serão vendidos a R$ 10. Os leitores vão descobrir, entre outros fatos trágicos de nossa história, que o marechal Rondon, criador do Serviço de Proteção ao Índio, foi o responsável pela maior rede telegráfica do mundo nos anos 20, do Mato Grosso à Amazônia. “Só que pouco depois o telégrafo foi substituído pelo rádio e essa obra toda caiu em desuso”, relata César Benjamin. O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, autor do projeto da série Identidade Brasileira, lembra que nestes 500 anos o importante não é falar do nascimento do País. “Mas sim dissecar sua construção.”