Como sede de um dos eventos esportivos mais importantes do planeta, o Brasil deverá receber nas próximas semanas não só turistas, mas dezenas de autoridades estrangeiras. Tanto o Palácio do Planalto quanto o Itamaraty esperam uma intensificação da diplomacia por ocasião da Copa. A Fifa garante assento na tribuna de honra aos chefes de Estado dos países que têm times no Mundial, e é natural que a maior parte das 31 nações que terão seleções no torneio, ao lado da brasileira, se faça representar politicamente. Ao menos um terço já confirmou presença no almoço que será oferecido pela presidenta Dilma Rousseff em São Paulo na quinta-feira 12, dia da abertura do Mundial. Logo após o término da Copa, ainda ocorrerá uma reunião de cúpula dos países membros do BRICs, o grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China. A presença dos três líderes dessa frente era dada como certa na cúpula do governo. O russo Vladimir Putin tem quase uma obrigação formal de comparecer ao encerramento da Copa, em 13 de julho, uma vez que seu país sediará o evento daqui a quatro anos. Empresários também sinalizavam que o presidente chinês, Xi Jinping, não deve faltar, uma vez que partiu dele o pedido de reagendamento da reunião dos Brics, marcada inicialmente para abril. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, é outro que deve comparecer.

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CAMAROTE VIP
Abaixo, o presidente chinês, Xi Jinping.
Acima, o vice-presidente americano, Joe Biden

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A presidenta Dilma enviou cartas a todos os chefes de Estado de países classificados para a Copa, chamando-os para o evento esportivo. Também convidou os colegas sul-americanos cujos países ficaram de fora do torneio, como Bolívia, Venezuela e Suriname. Outro convite foi enviado ao secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon. O Planalto precisou esperar até o último momento a definição dos cenários eleitorais na Índia e em El Salvador para chamar seus titulares. A presença de tantos representantes está sendo considerada nos corredores do Itamaraty como um marco na política externa de Dilma. E renova a validade da chamada “diplomacia da bola”, tão utilizada por Luiz Inácio Lula da Silva. Quando presidente, de 2003 a 2010, ele distribuiu bolas e uniformes, firmou parcerias, treinou técnicos estrangeiros e promoveu amistosos da seleção, como no Haiti, em 2004.

Mas a aproximação mais aguardada é entre Dilma e o vice-presidente americano, Joe Biden, que aceitou o convite da presidenta para prestigiar o torneio, pavimentando a reaproximação de Brasil e Estados Unidos após o episódio da espionagem americana. O representante de Barack Obama assistirá ao primeiro jogo da seleção dos Estados Unidos em Natal, contra Gana, e depois passará por Brasília, onde terá encontros com Dilma e com o vice Michel Temer. Além disso, várias autoridades devem prestigiar a presidenta, como é o caso da chanceler alemã Angela Merkel, que terá agenda social e política em Salvador, onde sua seleção enfrenta a portuguesa. As duas devem se reunir reservadamente. A partida também será acompanhada pelo primeiro-ministro português, que se reunirá com Dilma na capital baiana. Pedro Passos responde, assim, à visita da brasileira a Lisboa, ocorrida há um ano.

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O sul-africano Jacob Zuma (acima); o russo, Vladimir Putin;
e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon: eles vêm para a Copa

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Em termos de segurança, não está previsto nenhum esquema especial por parte das comitivas presidenciais, além do protocolar. De qualquer forma, a escolta de cada um dos chefes de Estado será a mais rigorosa do evento. Haverá atiradores de elite no teto dos aeroportos, helicópteros com artilharia, blindados nas ruas, aeronaves de vigilância, batedores e grupos de forças especiais – antiterror, resgate armado e antissequestro. Além de forças militares, haverá homens da Polícia Federal treinados para atuar com os agentes das delegações estrangeiras. O pessoal envolvido é altamente qualificado, e não pode ser identificado. Cerca de 90% já atuou em outros grandes eventos, como a reunião da ONU em 2012, a Rio+20, a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude.

O boliviano Evo Morales, um apaixonado por futebol, foi convidado também por Lula, que esteve recentemente em La Paz, e confirmou presença. Assim como o paraguaio Horácio Cartes, que tem se aproximado após o polêmico impeachment de seu sucessor, o ex-bispo Fernando Lugo. Entre as demais autoridades que responderam ao convite estão Ban Ki-Moon, da ONU; o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos; o de Gana, John Dramani Mahama; o do Gabão, Ali Bongo; o do Suriname, Dési Bouterse; o do Sri-lanka, Mahinda Hajapaksa; o primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic; o novo emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thani; e o presidente suíço, Didier Burkhalter, além do equatoriano, Rafael Corrêa. Também estão previstas as presenças do presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e de pelo menos dois príncipes, um japonês e um inglês.

Fotos: Adriano Machado; Sergei Chuzavkov e Francisco Seco/AP Photo; Bruno Domingos/Reuters; Sang Tan/AP