Sexta-feira, 30 de maio. As câmeras de segurança do prédio da rua Zanzibar, na zona norte de São Paulo, registram às 15h30 o zelador Jezi Lopes de Souza, 63 anos, entregando correspondência pelos andares do condomínio. Depois, ele não foi mais visto. O mistério do desaparecimento de Jezi dentro do edifício chegou ao fim na segunda-feira 2, quando a polícia prendeu o publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins, 47 anos, morador do apartamento 111 do prédio, em uma casa na Praia Grande, litoral paulista. “Eduardo Martins estava ao lado de uma churrasqueira queimando as vísceras do corpo do zelador”, afirmou Ismael Rodrigues, delegado da 4ª Seccional de São Paulo. Os policiais encontraram pedaços do corpo de Jezi espalhados em sacos plásticos pela casa. Em depoimento, o publicitário admitiu o crime. Ele disse à polícia que tinha brigas constantes com o zelador por vagas na garagem e supostos furtos de jornais. A mulher do publicitário, a advogada Ieda Cristina Martins, 42 anos, também é investigada por participação na ocultação do corpo. Agora, o casal é suspeito de envolvimento com outro assassinato, dessa vez, no Rio de Janeiro. A vítima seria o ex-marido da advogada, José Jair Farias, morto a tiros em 2005 aos 57 anos.

abre.jpg
NO CONDOMÍNIO
Eduardo Martins, certa vez, colou todos os botões do elevador e o síndico
do prédio registrou Boletim de Ocorrência porque ele escreveu
palavras obscenas e ameaças nos avisos do condomínio

CRIME-02-IE-2324.jpg

O publicitário confessou o esquartejamento, mas disse que a morte foi acidental, após uma briga com troca de socos quando o zelador entregava as cartas em seu andar. “Ele bateu na quina do batente e caímos dentro do apartamento. Olhei os sinais vitais, mas ele já estava morto”, conta. “Enrolei o corpo num cobertor e coloquei dentro da mala, não sabia o que fazer.” O advogado da família de Jezi, Robson Lopes de Souza, não acredita nessa versão. “Os indícios levam a crer que ele foi asfixiado ainda no prédio”, diz. Segundo vizinhos, Martins apresentava comportamento estranho. Um morador conta que o síndico registrou boletim de ocorrência contra o publicitário em dezembro de 2012. “Ele foi visto com roupa preta e máscara escrevendo palavras obscenas e ameaças contra o síndico nos avisos do condomínio”, relata. Noutra ocasião, as câmeras registraram Martins passando cola em todos os botões do elevador. Ele foi advertido por isso. O publicitário está detido, mas a prisão temporária de Ieda foi revogada pela Justiça após ela ser inocentada pelo marido.

IEpag56e57_Crime-1.jpg

Martins trabalhava de casa e por isso permanecia mais tempo no condomínio. Ieda costumava sair cedo para trabalhar. Uma professora do curso de reforço que o filho frequentava conta que era o pai quem costumava pegar o filho de 10 anos nas aulas. Mas na sexta-feira foi a mãe quem o buscou, às 17h40. Por volta desse horário, segundo a investigação, o publicitário teria colocado o corpo de Jezi em uma mala, levado até o carro com a ajuda de Ieda, como mostram as câmeras de segurança, e seguido para Praia Grande, no litoral paulista. Antes, deixou a mulher e o garoto na entrada do escritório na sexta-feira, no início da noite, segundo relato de uma funcionária do prédio onde Ieda trabalhava. Ela disse à polícia que achava que havia roupas para doação na mala. No domingo 1º, conforme depoimento em vídeo, Martins disse para a mulher: “Preciso resolver um problema”, e retornou sozinho para Praia Grande. Numa busca no apartamento do casal, a polícia encontrou documentos falsos, o cano de uma pistola, um silenciador e munição.

Agora, suspeita-se de que o casal possa estar envolvido em outro crime. Em 2005, foi aberto na 36ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, um inquérito que investiga a morte do empresário José Jair Farias, ex-marido de Ieda. Eles se casaram em 1994 e teriam permanecido juntos por cinco anos, de acordo com Fabiane Farias Busich, filha de uma união anterior do empresário. Com a separação, o filho do casal, José Jair Farias Júnior, hoje com 18 anos, passou a ser alvo de disputa. “Ela descumpria as datas de visitas de meu pai e começou a extorqui-lo para ele ver o filho”, diz Fabiane. Farias registrou queixa na delegacia por ameaças de Martins em 2002. Em 20 de dezembro de 2005, o empresário foi executado com dois tiros quando chegava à sua fábrica. Após a morte dele, a família encontrou um diário no qual o empresário registrava os pedidos de Ieda. “Eles tinham encontros amorosos, inclusive depois de ela estar casada com o Eduardo”, diz Fabiane. “Ela pedia quantias entre R$ 3 mil e R$ 8 mil.”

IEpag56e57_Crime-2.jpg

Fabiane afirma que a advogada usou o dinheiro do pai para fugir para São Paulo. “Ieda pegou R$ 100 mil que ele tinha em casa para pagar funcionários”, conta. Dois dias após a suposta fuga, ocorreu o homicídio. Com a morte do zelador Jezi, agora a polícia investiga se a arma utilizada na execução do ex-marido de Ieda é a mesma encontrada na casa de Martins na Praia Grande. A polícia do Rio de Janeiro afirma que na época intimou o publicitário a dar depoimento, mas ele não compareceu. Ieda foi ouvida duas vezes, mas a investigação não chegou a ser concluída. Martins será indiciado por homicídio triplamente qualificado no caso de Jezi e Ieda continua sendo investigada.

Fotos: Fábio H. Mendes/Futura Press; NIVALDO LIMA/FUTURA PRESS; Hélio Torchi/Folhapress