ALEXANDRE SANT’ANNA/AG. ISTOÉ

PASSAGEM O estudante Manoel Teixeira Lage irá para a China assim que terminar a faculdade

Pode parecer estranho, mas a China, o país com a maior população do mundo – 1,31 bilhão de habitantes –, procura mão-deobra qualificada estrangeira. Aproveitando os Jogos Olímpicos de Pequim, de 8 a 24 de agosto, o governo chinês pretende incentivar 150 mil profissionais com especializações diversas a se estabelecer no país até 2010. O objetivo é atrair talentos internacionais para ajudar no desenvolvimento e na inovação da economia. O diretor do Departamento de Administração Estatal de Assuntos Relacionados a Especialistas Estrangeiros (Safea, a sigla em inglês), Ji Yunshi, disse que o país “precisa urgentemente desses especialistas para continuar a se desenvolver”. Os profissionais procurados são das áreas de agricultura, economia energética, tecnologia da informação, desenvolvimento de novos materiais, biotecnologia e serviços financeiros. Segundo Ji Yunshi, a China vai elaborar mais leis e regulamentos, além de políticas preferenciais, para proteger melhor os direitos e os interesses dos estrangeiros.

A notícia animou os brasileiros. Desde novembro, cresceram os pedidos de vistos para trabalho nos consulados de São Paulo e do Rio. No escritório do Rio, que atende também aos mineiros, capixabas e baianos, somente em dezembro sete mil brasileiros pediram visto. A média mensal atual é de 1,2 mil requisições – tanto no Rio quanto em São Paulo, cujo escritório atende também aos paranaenses. Antes, não passava de 800. O interesse pela China se justifica pelas anunciadas oportunidades de trabalho num país de economia crescente, onde os salários são altos e o custo de vida é baixo. E é para lá que vai o estudante de economia Manoel Teixeira Lage, 23 anos, que cursa o mandarim no escritório carioca do Yuan Aiping. “Vou concluir a faculdade no fim deste ano. Até lá, estarei com maior domínio da língua. Aí, vou para a China”, afirmou. Profissionais do ramo de extração de petróleo, siderurgia e metalurgia são os que mais procuram vistos.

O número de pessoas que freqüentam os cursos de mandarim cresceu 150%, como constatam os centros culturais China-Brasil no Rio, São Paulo e Brasília. Segundo o Centro Cultural Yuan Aiping, no Rio, a busca pelos cursos está inflada, neste momento, por turistas e profissionais que vão assistir à Olimpíada. Com a intensa procura, o centro abriu filiais em Copacabana, na Barra da Tijuca e até em Pequim. Muitos executivos, no entanto, têm rejeitado convites para trabalhar na China alegando dificuldade em aprender a língua e também o alarmante índice de poluição das capitais. Ainda assim, de acordo com o China Daily, estima-se que 200 mil novos estrangeiros chegam ao país, a cada ano, para fixar residência.

As medidas a serem anunciadas pela Safea atacarão problemas como a falta de serviços em inglês, a limitada rede de atendimento médico, a ausência de seguro social e a oferta restrita de escolas internacionais. O governo também anunciou que espera poder oferecer oportunidades a cônjuges de estrangeiros transferidos para a China. Atualmente, há quase mil brasileiros registrados na embaixada em Pequim, mas a estimativa é de que exista quase o dobro de brasileiros morando na China.