O arquiteto carioca João da Gama Filgueiras Lima (apelidado de Lelé, em homenagem a um craque do Vasco dos anos 1940) morreu aos 82 anos em Salvador, na quarta-feira 21, vítima de câncer de próstata. Arquitetos terem preocupação com a desigualdade social já foi tradição no País, mas ninguém chegou ao ponto de Lelé: fabricava argamassa armada especial para cuidar do saneamento básico de favelas, ia de barraco em barraco e os chacoalhava para testá-los na resistência. Criou  fábricas de módulos para construções pré-fabricadas, numa espécie de linha de montagem arquitetônica que conheceu em viagem ao Leste Europeu. Ele economizava em tempo e dinheiro nas edificações dando aos vãos livres função de ventilação do ambiente. Coisa de gênio e de bom caráter que não ajuda governante nem empreiteira a montar caixa 2. Devido ao seu estilo ao mesmo tempo lírico e prático, Lelé era chamado de “poeta da racionalidade”. Em outras palavras, é como se tivesse sido um poeta concretista da arquitetura.