26/04/2000 - 10:00
Numa ferrenha partida de esgrima, Silvio Berlusconi, líder de centro direita e ex-premiê italiano, gritou um touché e atravessou com a espada o coração do primeiro-ministro, Massimo D’Alema. D’Alema, o único primeiro-ministro ex-comunista e o 57º dirigente da Itália, foi à lona depois de 18 meses no governo. Berlusconi, que foi primeiro-ministro em 1994 por oito meses, disse que sua missão está em “salvar o país do desastre das mãos da esquerda”.
Na quarta-feira 19, o presidente italiano, Carlos Azeglio Ciampi, anunciou que aceitou sua renúncia no palácio presidencial Quirinale, em Roma. Na mesma tarde, D’Alema já havia feito no Parlamento seu discurso de despedida como líder da coalizão de centro esquerda. “A minha demissão é um ato de coerência que não resisti em cumprir”, disse ele. A saída de D’Alema aconteceu três dias depois da derrota fulminante de sua coalizão que perdeu em 8 das 15 regiões da Itália nas eleições locais. Ele preferiu deixar o governo a ter de se submeter ao voto de confiança do Parlamento.
Quem levou os louros foi Silvio Berlusconi e os líderes conservadores da Pólo da Liberdade, que incluem os neofascistas Giancarlo Fini e Pino Rautti e o separatista da Liga Norte, Umberto Rossi. A centro direita venceu nas regiões mais ricas, influentes e populosas do país, entre elas Roma e Gênova – até então redutos dos esquerdistas.
Tudo poderá acontecer nesse jogo de espadas que ainda não terminou. O presidente Ciampi iniciou suas consultas com ex-chefes de governo e líderes da Câmara e do Senado para decidir o rumo do novo governo italiano. Berlusconi e seus aliados querem aproveitar o gosto da vitória nas urnas para antecipar as eleições legislativas de abril de 2001. Ciampi já avisou que fará de tudo para impedir uma votação antecipada e uma possível dissolução do Parlamento.
Porém, as pressões são fortes. O megaempresário da mídia não perdeu as esperanças de voltar a ocupar a cadeira mais importante na Itália, mesmo com processos de corrupção nas costas. O irmão e sócio de Berlusconi, por exemplo, já foi condenado por fraude.
A antecipação das eleições vem sendo sugerida até pela própria centro esquerda. Um sinal evidente de que as fibras do tecido da coalizão entrelaçado pelos ex-comunistas, ex-democratas-cristãos, pelos centristas liderados por Romano Prodi e os verdes estão desgastadas. Nem mal anunciada a intenção de D’Alema renunciar e candidatos a primeiro-ministro começaram a despontar no horizonte.
O presidente do Banco da Itália (o Banco Central), Antonio Fazio, foi sugerido para o cargo pelo ex-prefeito de Veneza Massimo Cacciari. Romano Prodi, presidente da Comissão Européia em Bruxelas, é outro forte candidato. “Nosso próximo candidato deverá ser uma pessoa capaz de captar os votos do centro e estou convencido de que D’Alema contribuirá para que encontremos alguém”, disse o ex-prefeito de Nápoles Antonio Bussolino.
As eleições terão de ser antecipadas caso o presidente Ciampi não chegue a um nome de consenso para liderar um novo governo de centro esquerda. Em todo caso, o plebiscito marcado para o dia 21 de maio deverá acontecer. Neste dia, os 58 milhões de eleitores italianos irão decidir a favor ou contra uma reforma no sistema eleitoral que daria a vitória para o candidato que levasse mais de 50% do total de votos no Parlamento. Analistas italianos afirmam que isso levaria a um governo mais estável. Se aprovada, a medida ainda permitiria o surgimento de dois blocos políticos na Itália, fortalecendo a centro esquerda. A luta de espadas continua.