Nem a genialidade de Galileu Galilei foi capaz de prever tamanha coincidência. O maior planeta do sistema solar é tão explosivo e tempestuoso quanto o deus que lhe empresta o nome. Júpiter, para os romanos, ou Zeus, como prefere a mitologia grega, era o deus dos deuses e dos homens. Seu reino eram os céus.

Sua arma, o raio. Distante 778,3 milhões de quilômetros do Sol, ele é o quinto corpo de nosso sistema e, ao contrário da Terra, sua fonte de energia não são os raios solares, mas a radiação interna. Mais pesado do que todos os planetas juntos, ele contém quase a mesma quantidade dos gases hidrogênio e hélio que o Sol. Júpiter e seus 16 satélites são uma espécie de miniatura do nosso sistema.


Embora tenha recebido a visita de duas naves americanas nos anos 70, as principais revelações sobre o planeta vieram da sonda espacial Galileu. Lançada em 1989, a geringonça de US$ 1,4 bilhão entrou na órbita de Júpiter em dezembro de 1995. Quase sem combustível e abalada por três vezes mais radiação do que estava preparada para receber, ela deve fazer mais dois rasantes sobre a lua Ganimedes. A nave bateu 14 mil fotos de Júpiter e de quatro de seus satélites, revelando mais dúvidas do que certeza aos astrônomos.


Os dados colhidos indicam que está na movimentação dos ventos a origem do calor desse titã com 318 vezes mais massa do que a Terra. “O fluxo térmico interno provoca o deslocamento de calor, em correntes de ar, de dentro para fora do planeta”, explica Amaury de Almeida, professor do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo. Essa nuvem quente alcança a camada mais alta da atmosfera, onde os ventos atingem 600 km/h. A mais famosa e duradoura das chuvas do planeta é conhecida como o Grande Ponto Vermelho. É uma tempestade em forma espiral que já dura 300 anos e tem duas vezes o tamanho da Terra.


Em 1610, quando focalizou Júpiter pela primeira vez, o astrônomo e filósofo Galileu também avistou quatro de suas luas. Em busca de prestígio – e dinheiro –, arriscou batizá-las com o nome dos integrantes da família Medici, que comandou a burguesia italiana por mais de três séculos. Em vez disso, os satélites receberam o nome de amantes de Zeus: Io, Europa, Ganimedes e Calisto, em ordem de distância. Um dos corpos mais explosivos do universo, Io tem mais de 100 vulcões em erupção.

Na mitologia, Zeus amou a ninfa e depois transformou-a em bezerra para despistar sua mulher, a ciumenta Hera, ou Juno, para os romanos. Seduzida por Zeus, desta vez no couro de um touro branco, Europa foi a grande surpresa para os cientistas. As fotos da Galileu revelaram evidências da existência de um oceano salgado, e consequentemente de vida, debaixo das placas congeladas. Também coberta de crateras, Calisto tem áreas brilhantes e outras, de breu intenso.

A sonda também revelou algo inesperado: assim como na Terra, existem em Júpiter áreas secas como um deserto e regiões úmidas como os trópicos. A maior de todas as luas é Ganimedes, que, descobriu-se agora, tem seu próprio campo magnético, um indício de que seu núcleo pode ser de metal fluido. Nascido em Tróia, o garoto foi raptado por Zeus, dessa vez sob o disfarce de uma águia, e a partir daí ficou responsável por manter a taça de Zeus sempre cheia de néctar.