O clima de otimismo que coloca o Brasil no início de um ciclo econômico virtuoso a partir deste ano não é obra das empresas ditas da “nova economia”, aquelas ligadas à Internet e à alta tecnologia em geral. São as indústrias de alimentos, produtos químicos, metalurgia, além do comércio e dos serviços, que estão levando o País para a parte mais alta da montanha-russa que caracteriza seu desempenho. Um levantamento feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostra que no primeiro trimestre deste ano o banco recebeu consultas para a obtenção de financiamentos num total de R$ 9,7 bilhões, número 23% maior do que os R$ 7,9 bilhões do mesmo período do ano passado. A melhor relação entre o volume de dinheiro e o crescimento no período analisado é a da indústria de transformação, cujas consultas de crédito cresceram 63%, passando de R$ 2,6 bilhões para R$ 4,9 bilhões (leia quadro). As indústrias que mais se destacaram neste setor são as de produtos químicos, alimentos e bebidas.

Em valores absolutos, comércio e serviços são os responsáveis pelo maior volume de consultas, chegando a R$ 5 bilhões, mas o número é o mesmo do primeiro trimestre de 1999. Isso não significa, no entanto, que estejam canceladas as apostas em alguns de seus subsetores, como energia e telecomunicações. Na comparação entre os trimestres, telecomunicações aparece com queda de 29%, de R$ 2,7 bilhões para R$ 1,6 bilhão, o que acabou por arrastar o setor inteiro para baixo na lista. A explicação vem do volume maior de consultas feitas no ano passado por conta das privatizações no ramo das telecons.

Os dados trimestrais do BNDES não são, de fato, uma garantia de que o ranking das consultas se manterá ao longo do ano. “O primeiro trimestre não é a época mais forte nas consultas, mas ainda assim traz números significativos”, diz Paulo Sergio Moreira da Fonseca, superintendente de planejamento do BNDES.

O que traz otimismo, porém, é que as consultas ao BNDES são um indicador mais confiável de crescimento de médio prazo. Quando um empresário vai ao banco obter crédito, o tempo entre a consulta e a liberação pode variar de dez meses a dois anos, de acordo com sua habilidade em preencher os requisitos burocráticos e em transitar pela instituição. Ou seja, é dinheiro para novos projetos e ampliações, e não para uso imediato. “O radar do crescimento aponta para algo entre 2001 e 2003”, diz Francisco Gros, presidente do BNDES