Acho que o Brasil é um país que ainda está procurando sua identidade. Todo país colonizado acaba recebendo heranças boas e ruins e isso faz com que sua identidade demore um pouco a ser construída. Mas tenho certeza de que nosso povo é muito melhor do que os poucos que não valem nada e que ocupam hoje cargos públicos importantes. Acredito, no entanto, que a sociedade vai expurgá-los. Estamos vivendo um momento de transição. Noto o aparecimento de gente muito interessante, como esses jovens promotores dispostos a esclarecer escândalos públicos e também políticos bem-intencionados. Creio num futuro promissor porque acredito na velocidade do povo em resolver seus problemas. Na medicina, por exemplo, tivemos grandes líderes como Carlos Chagas, que estudou e descobriu muito sobre a doença de Chagas, e Oswaldo Cruz, um dos maiores médicos sanitaristas do Brasil. Aqui, se conseguem coisas estonteantes para nossa realidade. O problema é que deveríamos ter centros de excelência como o Instituto do Coração (Incor) no Brasil inteiro. Quem tem e quem não tem dinheiro deve ter acesso ao conhecimento e à tecnologia. Olhando para nossa história, vejo que evoluímos muito no tratamento das doenças, mas a situação ainda é ruim. O modelo de saúde não mudou muito. A escravidão pode ser imposta acorrentando as pessoas ou não dando conhecimento e acesso à tecnologia, como acontece hoje. É a mesma coisa. Além disso, muitas endemias persistem, como a malária, a febre amarela e a dengue. Isso é inaceitável. Fazendo essa análise e olhando para o futuro, acredito que temos um grande desafio pela frente. Estamos herdando e juntando velhas doenças às novas. Pior do que a Aids é a Aids mais a tuberculose. Ao mesmo tempo que possuímos grande competência em transplantes, por exemplo, ainda há pessoas morrendo de diarréia. É inconcebível. Precisamos de medidas de ponta e de saúde pública para acabar com essas mazelas. Por isso, é preciso dar mais recursos para a saúde e ter mais competência gerencial. Acho que está na hora de darmos o grande salto de qualidade no cuidado com a saúde. Isso é possível.”
David Uip, 48 anos, médico infectologista e diretor da Casa da Aids, instituição vinculada ao Hospital das Clínicas de São Paulo


Orgulho

“Da velocidade com que tudo acontece aqui. Da rapidez com que se aprende, com que caminha a ciência, se contar com recursos. E também da velocidade com que o país se restabelece. São escândalos, planos econômicos, mas o povo consegue dar a volta por cima de novo. A despeito de todas as dificuldades, o brasileiro encontra saídas próprias para os problemas.

Vergonha
“Da quebra do conceito da dignidade, da retidão, da família. Cria-se um círculo no qual esses conceitos não existem. Cometem-se delitos que não são punidos e isso gera facilidades. Não somos o único país onde há corrupção, mas um dos únicos com maior impunidade.