As comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil – num momento mágico, em que o mundo comemora o alvorecer do Terceiro Milênio – vão nos proporcionar três momentos distintos: um olhar reflexivo sobre estes nossos cinco séculos de história, uma análise crítica do presente e uma discussão dos caminhos que vamos trilhar para a construção de um Brasil com igualdade, liberdade e fraternidade.
Somos um país continental e unido que não se estilhaçou depois da independência, com uma língua única e sem ódios religiosos, raciais ou étnicos.

Consolidamos a democracia. Não sofremos o flagelo das guerras civis. O Congresso é um dos parlamentos mais antigos do mundo. A anistia permitiu a reconciliação do Estado com a sociedade e das ruas com o poder. Com as reformas econômica, previdenciária e administrativa mais recentes, reconciliamos a ética com a política e a justiça com as mudanças. O Plano Real permitiu a estabilização da economia. A inflação descontrolada – que corroía salários, poupanças e esperanças – é hoje apenas uma lembrança. Estamos construindo um Estado norteado pelo interesse público.

É verdade que temos que resgatar uma dívida social de 500 anos de atraso, latifúndio, exclusão e desesperança. Nestes cinco séculos, nossos índios foram vítimas da barbárie branca. E muita riqueza foi construída com a escravidão de nossos irmãos negros.
Não é fácil resgatar em alguns poucos anos esta dívida de cinco séculos. Tudo o que se fizer será sempre apenas uma gota d’água diante da injustiça, da exclusão e da violência.

Apesar disso, avançamos em muitas coisas. Mais de 13 milhões de brasileiros deixaram a faixa da pobreza com o Plano Real. Temos 97% de nossas crianças de 7 a 14 anos em idade escolar. As matrículas no ensino médio cresceram 57% nos últimos anos. Estamos reduzindo a mortalidade infantil e combatendo o trabalho de crianças e adolescentes. Afinal, o lugar deles é na escola. Em cinco anos, desapropriamos mais de 13 milhões de hectares – algo como três Bélgicas juntas – no que deve ser o maior programa de reforma agrária do mundo com a democratização do acesso, uso, posse e conhecimento da terra.

A cidadania plena exige educação, moradia, saúde, alimentação, trabalho, salário, bem-estar e felicidade. O governo tem se empenhado para que possamos atingir esse objetivo.
O terceiro milênio já é presente na rapidez com que os acontecimentos se sucedem neste fim de século, mas o desafio para o Brasil no mundo é lutar pela substituição da globalização selvagem pela globalização solidária, que vai permitir que os países emergentes e as nações mais pobres tenham acesso à vida, à riqueza, à justiça e à felicidade.

O desafio é também eliminar a opressão, a miséria, as armas nucleares, o racismo, o terrorismo, o protecionismo e as barreiras nas fronteiras àqueles que emigram em busca da felicidade.
A simples humanidade exige a construção de uma nova ordem internacional que resgate os ideais da Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade entre todos os habitantes deste pequeno planeta, que é a nossa casa.

Nas comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, há também um desafio interno: a redescoberta do Brasil pela solidariedade. Solidariedade é não uma palavra solta no espaço ou no discurso vazio. Solidariedade é ação e decisão de construir um Brasil igualitário, fraterno, justo e generoso em que todos tenham acesso à vida e à felicidade.

Em 1500, Cabral e seus marinheiros enfunaram suas velas em toscas naus para enfrentar o desafio de atravessar o Mar Tenebroso e encontrar uma terra desconhecida que viria a se chamar Brasil.
Hoje, no ano 2000, chegou a hora de vencermos juntos o oceano da pobreza, da fome e do atraso para construirmos um Brasil de igualdade, liberdade e fraternidade.
Será a nossa maior conquista.
A descoberta do Brasil estará completa.”
Fernando Henrique Cardoso

Orgulho
“Em cinco anos, desapropriamos mais de 13 milhões de hectares – algo como três Bélgicas juntas – no que deve ser o maior programa de reforma agrária do mundo com a democratização do acesso, uso, posse e conhecimento da terra”

Vergonha
“Temos que resgatar uma dívida social de 500 anos de atraso, latifúndio, exclusão e desesperança. Nestes cinco séculos, nossos índios foram vítimas da barbárie branca. E muita riqueza foi construída com a escravidão de nossos irmãos negros”