23/04/2007 - 10:00
A ÁLCOOL Lula (à dir.) levou a melhor na Cúpula Energética. As resistênciais iniciais de Chávez (à esq.) ao etanol foram abrandadas
Inverteu-se o sinal. Desde o início da sua indústria automobilística, o Brasil tem simplesmente montado, na maioria das vezes, carros e motores que são projetados pelas matrizes das fábricas na Europa e nos Estados Unidos. Na contra-mão dessa regra, o presidente da PSA Peugeot Citroën, Christian Streiff, que esteve pela primeira vez no Brasil na semana passada, anunciou que a sua fábrica brasileira, instalada no município de Porto Real, no Rio de Janeiro, começará a equipar com motores Flex os modelos Citroën C4 e Peugeot 307 na França e na Suécia. Motores brasileiros em automóveis franceses. Não há nada de excêntrico nisso. Por razões ambientais e econõmicas, o mundo inteiro discute tecnologias alternativas à dependência do petróleo. E essa discussão interessa muito ao Brasil. Além de ser um dos maiores produtores de biocombustíveis do mundo, o País detém a tecnologia de produção dos motores que rodam movidos pela chamada energia verde. “No campo da bioenergia, nossos interesses coincidem com os interesses do governo brasileiro”, declarou Streiff.
A produção nacional de álcool combustível é de 17,5 bilhões de litros anuais, e a previsão é de que essa demanda internacional faça esse número dobrar nos próximos dez anos. A projeção foi feita pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, durante o encontro da Comissão Interamericana para Produção de Etanol, na terça-feira 17. Reunia-se com Stephanes nesse evento o ex-governador da Flórida Jeb Bush, co-presidente da comissão e irmão mais novo do presidente George W. Bush. Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também discutia os rumos da produção de energia na América do Sul com o presidente venezuelano Hugo Chávez e outros líderes do continente, na 1ª Cúpula Energética. O etanol, como era de esperar, deteve todas as atenções durante o encontro. Principal produtor de petróleo do continente, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, traiu o tamanho da sua preocupação com a concorrência. No começo do encontro, fez pesadas críticas à política de etanol.
"Nossos interesses coincidem com os interesses do governo brasileiro" Christian Streiff, presidente da PSA Peugeot Citroën
Ao final, porém, Chávez abrandou o discurso, diante da perspectiva de renegociação da venda do álcool combustível brasileiro para a Venezuela. “Nós vendemos etanol e vamos continuar vendendo etanol para a Venezuela. O acordo já está sendo refeito e agora é simplesmente uma questão de preço”, explicou o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia. “Queremos importar etanol sem taxas”, explicitou Chávez. Das discordâncias iniciais, Lula e o presidente venezuelano deram o primeiro passo para a famigerada integração. Firmaram um acordo para a construção de um complexo petroquímico que incluirá uma refinaria para etileno e outra para polipropileno na cidade de José, 300 quilômetros a leste de Caracas, e planejam construir o gasoduto do sul, junto com Bolívia e Argentina, que levará gás para mais de 12.500 quilômetros entre a Venezuela e a Patagônia. Para a maioria dos analistas internacionais, o Brasil foi o grande vencedor da cúpula. Em breve, nos carros franceses, correrá energia brasileira.