PSICOPATIA Cho Seng-hui enviou vídeo onde aparecia como Robert de Niro em Taxi Driver

O maior massacre da história de universidades americanas foi cometido na quarta-feira 17, no Instituto Politécnico da Virgínia (Virginia Tech), em Blacksburg. No intervalo de pouco menos de três horas, o estudante Cho Seng-hui, imigrante sul-coreano de 23 anos e aluno daquela instituição, matou 32 pessoas, foi responsável direta ou indiretamente pelo ferimento de mais 15 e depois se suicidou. A brutalidade dessa ação demorará para ser entendida pelos americanos ou por pessoas de qualquer nacionalidade. E, talvez, a melhor forma para compreender a tragédia é se estabelecer sua crônica seguindo-se as etapas de uma investigação policial formal. Em primeiro lugar, a constatação de vítima (os mortos e feridos). Depois, os meios, ou seja, as armas do crime: uma pistola Glock 9 mm, automática e com pente alongado para acomodar 19 balas, e também uma pistola Walther, calibre .22. Os dois itens foram encontrados junto a Cho, que trazia nos bolsos os recibos de compra das armas. Em seguida, vêm as questões de “motivo” e “oportunidade” para a ocorrência.

E são nesses pontos que as respostas começarão a ganhar nuances, que ainda podem abater as carreiras e empregos de autoridades da Virginia Tech e, principalmente, da polícia do Estado.

roger l. wollenberg/upi

A primeira morte parece ter sido crime passional: Cho entrou no prédio, dormitório West Ambler Johnston Hall, onde residia sua suposta ex-namorada, Emily Hilscher, 19 anos. Testemunhas dizem que ele estava calmo e não demonstrava intenções violentas. Às 7h15, foram ouvidos três tiros. Emily acabara de ser assassinada. Menos de um minuto depois, dois outros estampidos: Ryan Clark, 22 anos, estudante-monitor naquele alojamento fora abatido – imagina-se que tenha tentado intervir na saída de seu algoz. Teria ficado nisso, caso Cho não partisse à caça de novas vítimas. ISTOÉ apurou o que podem ser novas razões para o ato. O pastor Charles Kim, da Igreja Cristã Coreana Yourg Saeng – de Centreville, cidade onde mora a família Seng-hui –, disse que Cho o procurou há cerca de dois anos para dizer que ouvia vozes. “Ele não fazia parte de nossa igreja: foi indicado a mim por um amigo comum. Numa conversa demorada, Cho me disse que ouvia vozes. Não sabia se os interlocutores eram anjos ou demônios. Pedi a um psicólogo que freqüenta nossa congregação para conversar com o rapaz”, conta Charles. Este profissional concluiu que havia sérios indicativos de que Cho sofria de paranóia. “Conseguimos que ele tivesse uma entrevista com um psiquiatra. Depois de duas sessões, aquele profissional deu um diagnóstico assustador: Cho sofria de esquizofrenia paranóica”, diz o reverendo. “Fui conversar com os pais do moço, mas eles ficaram ofendidos e não me deram ouvidos. Cho nunca mais me procurou, apesar de vários esforços feitos por mim para contatá-lo”, disse o pastor.

Motivos, passionais ou psicóticos, levam à questão da oportunidade. E é neste quesito que o assunto fica ainda mais grave. Depois de matar Emily e Ryan, Cho foi para seu próprio dormitório, a duas quadras do local do crime. Seu colega de quarto o viu na entrada do prédio. “Ele não parecia nem um pouco agitado”, diz Joe Aust, 19 anos, que dividia os aposentos com o assassino. Cho ainda teve tempo para escrever o que se imagina ser sua carta de despedida, onde ressaltou a frase: “Vocês me encurralaram!” O alvo de sua fúria eram “garotos ricos, bagunceiros e charlatães”. Cho ainda enviou 27 vídeos à NBC, onde aparece exibindo armas. Enquanto isso, a polícia virginiana e os guardas de segurança da universidade andavam como baratas tontas em busca de um culpado pelo duplo homicídio. “Eu liguei para a polícia e disse que havia visto um rapaz asiático saindo apressadamente do meu dormitório”, diz Michelle Woogen, estudante que mora no local. A polícia foi em busca de um moço chinês, que já estava fora do campus, e não tinha nada a ver com a história. Essa busca, seguida de interrogatório levou uma hora e meia. Cho, a essa altura, já se encaminhava com armas e farta munição para o massacre nas salas de aula do prédio Norris Hall. Teve tempo até para acorrentar os batentes da porta principal, e fechar tudo com cadeado.

“Não se ordenou o fechamento do campus porque a escola é oito vezes maior do que o Central Park e uma população de 36 mil pessoas”, disse Jeann Lazenby, a porta-voz do presidente da Virginia Tech, Charles Steger. O presidente também disse que a polícia lhe “assegurou” que a situação estava contida. “Como contida?”, pergunta James Fox, ex-chefe do setor antiterrorismo do FBI em Nova York. “O que havia eram dois corpos e mais nada. Onde estava o suspeito? E a arma do crime? O que garantia que os assassinatos não continuariam? A única coisa contida, até então, foi a resposta da polícia e de autoridades da universidade”, dispara Fox.

Cho entrou no Norris Hall e foi matando metodicamente as pessoas. Parava calmamente para recarregar a Glock 9 mm. Algumas vítimas apresentaram múltiplos ferimentos, indicando que o assassino queria se certificar de suas mortes. E neste ponto infira-se novo caso de “opurtunidade”. Cho comprou a Glock (por US$ 571, imposto incluído). Não precisou viajar mais do que 70 quilômetros para isso. A Virginia é um dos Estados mais liberais do país em questões de porte de armas. Os múltiplos pentes trazidos por Cho armazenavam 19 balas cada um. Quando a polícia finalmente entrou no prédio, só foi possível contar os mortos e carregar feridos. No último ato, o assassino pressionou o gatilho com a arma apontada contra sua própria cabeça.