18/04/2007 - 10:00
O governo celebra, o empresariado teme e o Banco Central se abstém de comentários. O motivo da agitação? O dólar está a um passo de deixar a casa dos R$ 2. O otimismo em relação ao crescimento da economia dos EUA fez a Bovespa bater recorde, acumulando inéditos 46.854 pontos na segunda-feira 9. Nesse mesmo dia, a moeda americana caiu a R$ 2,025, menor valor desde março de 2001. No decorrer da semana, o dólar voltou a subir, chegando a R$ 2,04, mas fechou novamente em queda na última quinta-feira, cotado a R$ 2,035, enquanto a Bolsa alcançou novo recorde: 47.346.
A euforia do mercado no início da semana foi resultado do anúncio do governo americano, na sexta-feira 6, sobre o aumento dos postos de trabalho nos EUA no mês de março. Os 180 mil postos divulgados superaram os 135 mil esperados. A onda otimista fez o número de negócios aumentar na Bovespa e a grande quantidade de dólares no mercado fez o preço da moeda despencar. Os efeitos positivos atingiram também o risco-país, que alcançou o menor valor da história, 156 pontos.
Há alguns anos, o dólar tão baixo desesperaria os economistas do governo e o Banco Central interviria para impedir a queda. Mas hoje comemora-se. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, afirmou que não haverá alteração da política cambial. Guido Mantega, ministro da Fazenda, disse que “a moeda reflete a força e a estabilidade da economia brasileira”, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
O setor empresarial, no entanto, se alarmou. Segundo o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca, o panorama não poderia ser pior. “Quanto mais mão-de-obra e matéria-prima nacional um setor emprega, piores são os efeitos da valorização do real”, alerta. Para o empresário, o fechamento de fábricas e a desindustrialização do País serão as próximas conseqüências. “É questão de meses. A indústria não tem fôlego para agüentar por muito tempo.” Apesar das queixas, o Brasil exportou US$ 137 bilhões em 2006, 16% a mais que no ano anterior, e se manteve acima da média mundial, que foi de 15%.
Para salvar a indústria da crise e equilibrar o dólar, o economista Carlos Tadeu de Freitas Gomes acredita que só há uma solução. “Os juros devem cair mais rápido”, afirma Gomes, que já foi diretor de Política Monetária do Banco Central e agora representa a divisão de economia da Confederação Nacional do Comércio.