15/11/2006 - 10:00
A mais velha e deplorável prática de todo início de governo é o conhecido toma-lá-dá-cá de cargos, benesses e promessas, que marcam as alianças em construção. Formar a chamada base de apoio é fundamental para qualquer mandatário, mas deveria haver limites nas concessões. Não fugindo à regra, o País assistiu na semana passada ao retorno da condenável prática. A revoada de governadores eleitos baixou em Brasília. Os pedintes iam direto ao gabinete presidencial e saíam de lá saciados. Teve de tudo: briga para comandar ministérios e autarquias, exigências de perdão de dívidas e de liberação de verbas. Os mais afoitos chegaram a “correr a sacolinha” para sangrar o Tesouro em quase R$ 130 milhões com novas despesas de custeio e investimento. Como numa festa de Natal, todos queriam ser presenteados pelo Papai Noel do Planalto. E, de saída, o presidente eleito, Lula, prometeu atender. O grande problema, óbvio, é que não existe orçamento e vagas suficientes para alimentar tanto apetite.
O perigo maior é que o próprio Lula tomou a frente das negociações, sem intermediários, uma vez que seu interlocutor oficial, o ministro Tarso Genro, saiu de férias. Na overdose de exigências sobrou espaço até para veladas chantagens. Alguns partidos vieram até a vincular o seu futuro apoio à aprovação de reformas urgentes – como a política e a previdenciária – à participação no Ministério de Lula. Para um mandato que, os brasileiros esperam, deve ser marcado por um projeto de desenvolvimento sustentável, o jogo do varejo político se mostra por demais arriscado. Como esperar metas fiscais enxutas e deliberações de planos de investimento sem desvios ou superfaturamento com tamanho olho grande sobre o butim?