Uma série de tevê pode ensinar algo a um respeitável professor de medicina alemão? “Sim, pode. Desde que seja bem pesquisada”, disse à ISTOÉ Juergen Schaefer, que chefia um serviço especializado no diagnóstico de doenças raras e incomuns da Universidade de Marberg, na Alemanha. Na vida real, ele foi protagonista do mais recente episódio dessa natureza. O feito foi relatado em um artigo publicado na semana passada pela revista científica “The Lancet”. Tudo começou com a chegada de um paciente de 55 anos com sintomas complexos e sem diagnóstico conclusivo. Tinha baixos níveis de hormônios tireoidianos, insuficiência cardíaca, inflamação de esôfago, febre de origem desconhecida e estava quase cego e surdo.

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DA TEVÊ PARA O HOSPITAL
Schaefer (abaixo) usa episódios da série com o
Dr. House para ensinar seus alunos

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Em conversa com a esposa do paciente, Schaefer descobriu que os sintomas tiveram início após a troca de uma prótese de cerâmica no quadril que havia se quebrado por outra, de metal, havia três anos. Aí soou o alarme em sua mente. “Lembrei de um episódio de “House”, o décimo-primeiro da sétima temporada, em que a mãe de Cudy, diretora do hospital, tinha sintomas quase idênticos aos do meu paciente. A causa era envenenamento pelo cobalto liberado por uma prótese de quadril”, contou Schaefer, que há cinco anos exibe episódios da série para motivar seus alunos. Em 2010, ele foi considerado o melhor professor de medicina da Alemanha e, em 2013, o melhor médico.

A recordação o levou a testar a presença de cobalto no sangue, que estava muito acima do normal. Exames de imagem revelaram o desgaste da prótese dos quadris. “Partículas de cerâmica deixadas para trás na troca funcionavam como lixa, erodindo o metal”, explicou Schaefer. Após uma desintoxicação, o paciente recolocou a prótese de cerâmica e um desfibrilador no coração em razão da insuficiência cardíaca.