24/01/2014 - 20:50
Colecionadores de arte sempre foram associados à imagem do bilionário vaidoso e excêntrico que gasta tubos para ter em sua casa – e apenas para o deleite de amigos – obras de artistas estrelados. Esse estereótipo, contudo, está sendo enterrado com a exibição de acervos antes invisíveis, seja em museus especialmente construídos para abrigá-los, seja por meio da itinerância dessas coleções pelo mundo. Para o Brasil, a segunda opção é atraente e começa a se tornar uma prática comum, como prova a chegada de mais uma exposição internacional, “Visões na Coleção Ludwig”, em cartaz no CCBB, em São Paulo, até 21/4. São 78 obras de primeira grandeza de nomes como Pablo Picasso, Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Anselm Kiefer, entre outros, abrangendo o melhor da arte moderna e contemporânea. Uma parcela pequena, mas expressiva, da coleção de 20 mil peças, acumulada desde os anos 1950 pelo empresário alemão Peter Ludwig e sua mulher, Irene – o recorte vem do Museu Russo de São Petersburgo, uma das 12 entidades presenteadas com uma parte desse acervo. Outros países que possuem um Museu Ludwig são Hungria, Áustria, Suíça, Cuba e China. “Desde o início, Ludwig quis internacionalizar a sua coleção”, diz Ania Rodríguez, da empresa carioca ArteA, que assina a curadoria com Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, do Museu Russo.
DIRETO DA RÚSSIA
"Cabeças Grandes" de Pablo Picasso
"Retrato de Peter Ludwig", de Andy Warhol
Tela sem título, de Jean-Michel Basquiat
"Madona", de Claudio Bravo: destaques da coleção em empréstimo
permanente no Museu Russo de São Petersburgo,
atualmente em cartaz no CCBB de São Paulo
Com sede em Aachen, no oeste da Alemanha, o Museu Ludwig possui a maior coleção de pop art fora dos EUA. “Ele adquiriu obras importantes desses artistas muito antes de ficarem conhecidos”, diz Ania, mostrando como o empresário sempre teve um bom olho. É justamente com obras de Warhol (que assina um retrato do colecionador), Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg que a exposição recebe o visitante. Outro segmento forte é o neoexpressionismo alemão, com telas de Georg Bazelitz, Markus Lüpertz e A.R. Penck, também adquiridas no início de suas carreiras. Dono do terceiro maior acervo de Picasso no mundo (só perde para Paris e Barcelona), o museu reservou lugar de destaque na mostra para “Cabeças Grandes”, do pintor espanhol.
Criar fundações para abrigar coleções particulares é a iniciativa mais comum na difusão desses valiosos acervos. O empresário francês Bernard Arnault, por exemplo, contratou o arquiteto Frank Gehry, autor do projeto do Museu Guggenheim Bilbao, para levantar em Paris a “Louis Vuitton Foundation for Creation”. Também francês, François Pinault exibe parte de suas duas mil obras no Palazzo Grassi e na Punta della Dogana, em Veneza. Mas mantém um programa de empréstimo de suas aquisições, compondo importantes mostras itinerantes. Uma delas foi “Un Certain État du Monde”, com obras de Jeff Koons, Bill Viola, Maurizio Cattelan e Cindy Sherman, entre outros, acontecida no Garage Center for Contemporary Culture, em Moscou. A estratégia mais inovadora, contudo, é a do colecionador americano Eli Broad. Ele criou o que chama de “biblioteca de empréstimos” e contabiliza mais de oito mil colaborações com 500 museus. “Todos ganham: uma grande parte de sua coleção é mostrada e um maior público global pode usufruí-la”, disse ele.
No Brasil essa mentalidade já se encontra em prática. Entrará em itinerância e já está confirmada para a Pinacoteca do Estado, em São Paulo, a mostra “Trajetórias – a Arte Brasileira na Fundação Edson Queiroz”, atualmente em cartaz em Fortaleza. Outra exposição aberta na capital paulista, no Paço das Artes, é “Duplo Olhar”, com 110 obras do colecionador brasiliense Sérgio Carvalho. Com um acervo de mais de mil trabalhos, ele pretende abrir um museu fora do eixo Rio-São Paulo. “A presença de artistas das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste é forte em suas aquisições. É uma coleção muito abrangente”, diz Denise Mattar, curadora da mostra.
Fotos: PATRICIPA PHELPS; ANDREA PATTARO/AFP/Getty Images; Jonathan Alcorn/Bloomberg News