24/01/2014 - 20:50
Depois de um ano de muita desconfiança com a conduta da política econômica e de mais um resultado do PIB abaixo do esperado, a presidenta Dilma Rousseff decidiu, pela primeira vez desde que tomou posse, encarar frente a frente os maiores líderes empresariais do mundo para iniciar uma espécie de cruzada contra o mau humor dos mercados em relação ao Brasil. Acompanhada de toda a sua equipe econômica, entre eles o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, Dilma foi até a Suíça para participar do Fórum Econômico Mundial, que ocorre todos os anos na simpática Davos, nos Alpes.
ESTREIA
Em Davos pela primeira vez, Dilma falou para mais de 1,5 mil líderes
mundiais e teve encontros reservados com empresários
No discurso de cerca de 30 minutos que fez na sexta-feira 24 para uma plateia de mais de 1,5 mil dos mais importantes empresários, financistas e investidores do planeta, a presidenta fez questão de reforçar o compromisso brasileiro com os investidores que estão dispostos a apostar no Brasil e dissipar as desconfianças de que o País não anda assim tão hospitaleiro com o capital externo. “O Brasil é hoje uma das mais amplas fronteiras de oportunidades de negócios. Sempre recebemos bem o investimento externo. Meu governo adotou medidas para facilitar ainda mais essa relação. O Brasil precisa e quer a parceria com o investimento privado nacional e externo”, disse a presidenta.
Apesar de sempre ter reafirmado que busca parcerias entre o capital privado e o poder público, o discurso de Dilma marca uma nova fase de seu governo na relação com o mercado. Até agora, ela relutava em fazer movimentos tão amplos e explícitos para convencer o empresariado, em especial o estrangeiro, de que o Brasil é um país aberto, pronto para receber quem quiser investir por aqui.
REFORÇO
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini (acima), e o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, acompanharam a presidenta na viagem à Suíça
A ida a Davos é um exemplo claro disso. Ao contrário de Lula, que logo no primeiro ano de governo visitou o Fórum, Dilma só decidiu cruzar o Atlântico para encontrar os maiores investidores mundiais em seu último ano de mandato. “Dilma quer mostrar que não é uma pessoa antiempresa”, diz Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP. A presidenta fez isso e não se absteve de tocar em temas delicados para seu governo, como os repetidos resultados tímidos do PIB. “Aspectos da conjuntura recente não devem obscurecer essa realidade”, disse, em relação às possibilidades de investimento e crescimento do Brasil.
"O Brasil é hoje uma das mais amplas fronteiras de oportunidades
de negócios, e queremos o setor privado como parceiro"
Dilma Rousseff
“Precisamos mostrar as oportunidades que existem no Brasil. Temos gargalos claros, que representam opotunidades reais de investimento”, disse à ISTOÉ Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que também acompanhou a comitiva brasileira a Davos. Neri vê excesso de otimismo da população e pessimismo exagerado dos empresários.
ENCONTRO
O Fórum Mundial de Davos concentra as maiores líderanças
empresariais do mundo na pequena cidade dos Alpes Suíços
A viagem de Dilma a Davos é, de certa forma, a continuação de um movimento de aproximação com o empresariado que já vinha ocorrendo no Brasil. E que, lentamente, parece estar dissipando as desconfianças do setor privado. “A presidenta Dilma tem consciência de que estamos vivendo num mundo em que o Brasil precisa ser eficiente para disputar investimentos. E o Brasil tem um projeto de País para apresentar”, afirmou à ISTOÉ Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, quarto maior banco do Brasil em ativos, que também esteve em Davos para o Fórum econômico Mundial.
O setor privado internacional, por sua vez, parece ter gostado do que ouviu. Uma série de grandes empresários e investidores pediram encontros reservados com a presidenta e com os outros integrantes da equipe econômica. “Ninguém quer ficar fora do Brasil. Temos muitas possibilidades, como extensão territorial, população, democracia, estrutura jurídica e política consolidada”, disse Trabuco. Em entrevista coletiva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou a otimista previsão de que a taxa de investimento do Brasil pode se aproximar de 24% do Produto Interno Bruto (PIB), em vez dos atuais 19%. “O setor privado, em parceria com o governo, deverá implementar centenas de bilhões de dólares em investimentos no País. São praticamente os setores importantes da economia, como petróleo e gás, energia, rodovias, ferrovias e aeroportos”, disse.
Fotos: ERIC PIERMONT/AFP/Getty Images; Denis Balibouse, Ruben Sprich – REUTERS; Laurent Dillieron/EFE