A incapacidade de prever o potencial de vendas de uma nova obra literária sempre assombrou editoras do mundo todo. Exceto por fatores como notoriedade do autor e atualidade do assunto, é quase impossível dizer se um novo livro será um sucesso ou não. Isso, no entanto, pode estar prestes a mudar. Cientistas de uma universidade americana criaram um algoritmo – nesse caso, um programa de computador – que eles dizem ser capaz de prever com 84% de precisão se determinado romance, ou qualquer obra de outro gênero literário, será bem aceito pelos leitores.

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“Todos os estudos feitos anteriormente eram apenas qualitativos e dependiam do conhecimento e das impressões de especialistas em literatura”, diz Yejin Choi, professora do curso de ciência da computação da Universidade Stony Brook, em Nova York. “Somos os primeiros a criar um sistema quantitativo para investigar o estilo de escrita nas obras literárias de sucesso.” A ferramenta computadorizada, apelidada de “estilômetro estatístico”, analisa o léxico, a gramática e até o tipo de escrita para definir as chances de um novo livro se dar bem no mercado.

Para validar o funcionamento do algoritmo, os pesquisadores baixaram os livros disponíveis no acervo do Projeto Gutenberg – uma iniciativa que digitalizou milhares de obras desde 1971 – e compararam as previsões do computador com o histórico de sucesso de crítica e vendas. “Para nossa própria surpresa, o método foi bastante preciso”, diz Yejin. Diante do índice de acerto de 84%, os cientistas estenderam a análise para livros mal avaliados por clientes do site Amazon. Mais uma vez, os resultados endossaram o funcionamento do sistema.

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CLÁSSICO
"Dom Quixote", um dos livros mais vendidos da história

Entre as tendências encontradas pelo programa de computador está o uso constante de conjunções como “e” e “mas” em livros que alcançaram bons números de vendas. Termos que descrevem o processo de pensamento humano, como “reconheceu” e “relembrou”, também apareceram com frequência nos livros de sucesso. Já as obras que encalharam nas prateleiras registraram maior presença de verbos a advérbios que descrevem explicitamente ações e emoções, como “pegou”, “quis” e “prometeu”.

Por enquanto, não há qualquer previsão de aplicar o algoritmo comercialmente. O sistema também não é à prova de falhas. O livro “O Símbolo Perdido”, sucesso de vendas do americano Dan Brown, foi considerado um potencial fracasso pelo algoritmo. Para consolo dos pesquisadores, a análise está de acordo com as péssimas críticas que a obra sempre recebeu.

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