15/10/2008 - 10:00
Diz a lenda que, às vésperas do grande crash de 1929, o bilionário John Rockefeller, magnata do petróleo, tomou uma das decisões mais importantes da sua vida quando seu engraxate lhe pediu dicas de investimento na Bolsa de Valores de Nova York. Rockefeller, que era dono da Standard Oil, concluiu que, se até o povão jogava no cassino, em breve não haveria mais qualquer demanda por ações.
Vendeu tudo e ficou ainda mais rico. No crash atual, o único engraxate que conseguiu ganhar algum dinheiro foi o brasileiro Murilo dos Santos, que trabalha em Nova York e inspirou o livro Confissões de um engraxate de Wall Street. Murilo não fez fortuna com ações, mas testemunhou a ascensão e queda dos tubarões do mercado financeiro global. Hoje, as gorjetas estão menores, mas sua história em breve estará nas telas do cinema.
O fato é que o axioma de Rockefeller sempre funciona. Quando os patos entram no jogo, as raposas saem pela porta de trás. Embora as Bolsas do mundo inteiro estejam derretendo, a queda da Bovespa é ainda mais aguda. Ela supera 50% em dólar e significa que mais de US$ 300 bilhões evaporaram nos últimos 12 meses. Dinheiro que, em grande parte, saiu dos bolsos da classe média. Hoje, as pessoas físicas, que operam na Bolsa de casa, através do chamado home broker, já representam mais de 25% dos negócios com ações no Brasil. Muitos acreditavam que havia um atalho para a prosperidade e sairão, novamente, desapontados. No início da década de 70, houve um crash parecido no Brasil, depois que várias empresas pequenas lançaram papéis no mercado, mas, como a memória é curta, ninguém mais se lembra disso.
Aqui, muitas ações estão virando pó e os papéis que foram negociados em ofertas iniciais das empresas – os chamados IPOs – já poderiam estar sendo vendidos em lojinhas de R$ 1,99 no centro das cidades. Valem menos do que quinquilharias chinesas. No entanto, nenhuma queda é tão simbólica quanto a que ocorreu com os papéis das próprias Bolsas brasileiras: a Bovespa e a BM&F. Há pouco mais de um ano, a euforia era tão grande que as duas instituições, até então controladas pelas corretoras, decidiram se transformar em sociedades anônimas e vender suas próprias ações. Houve filas nos bancos e a BM&F chegou a fazer uma campanha publicitária para atrair a classe média, que aderiu em peso. Resultado: as ações das duas Bolsas, palco da jogatina, já caíram mais de 70%, mas os corretores saíram milionários. Os patos, agora, terão de esperar a próxima bolha.